A Ilha

Levanto as mãos para o céu,
os braços para o alto
num gesto
menos de agradecimento
do que desamparo.
Não sei como ainda me sustento
dentro dos sapatos.
Cada passo
um novo compasso.
Caminho pela cidade,
pelo Estácio
onde vim acalmar o sentido...
e penso
"A vida inteira que não foi
e que poderia ter sido".
A promessa, o sonho, o beijo
não propriamente esquecidos,
mas diluídos
no dia a dia do corpo.
Penso naquele que fui
sem saber que era
e procuro a essência da primavera
para dela partir novamente.
Mistério. Difícil
dilema:
me busco no passado ou me reconstruo
do nada?
Sou fênix ou sou cinzas?
Navego no escuro.
Contenho
no peito o grito.
Liberdade! Liberdade
é bairro em São Paulo.
ou ainda
Terra a vista!
ai, quem me dera, que vontade
de encontrar-me
Robinson Crusoé perdido em sua ilha.


Rio de Janeiro, 3 de abril 1997
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