Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo

Manuel Antônio Álvares de Azevedo foi um escritor da segunda geração romântica, contista, dramaturgo, poeta e ensaísta brasileiro, autor de Noite na Taverna.

1831-09-12 São Paulo, Brasil
1852-04-25 Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
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Prémios e Movimentos

Romantismo

Alguns Poemas

DESÂNIMO

Lira dos Vinte Anos
Segunda Parte

Estou agora triste. Há nesta vida
Páginas torvas que se não apagam,
Nódoas que não se lavam... se esquecê-las
De todo não é dado a quem padece...
Ao menos resta ao sonhador consolo
No imaginar dos sonhos de mancebo!

Oh! voltai uma vez! eu sofro tanto!
Meus sonhos, consolai-me! distraí-me!
Anjos das ilusões, as asas brancas
As névoas puras, que outro sol matiza.
Abri ante meus olhos que abraseiam
E lágrimas não tem que a dor do peito
Transbordem um momento...

E tu, imagem,
Ilusão de mulher, querido sonho,
Na hora derradeira, vem sentar-te,
Pensativa e saudosa no meu leito!
O que sofres? que dor desconhecida
Inunda de palor teu rosto virgem?
Por que tu'alma dobra taciturna,
Como um lírio a um bafo d'infortúnio?
Por que tão melancólica suspiras?

Ilusão, ideal, a ti meus sonhos,
Como os cantos a Deus se erguem gemendo!
Por ti meu pobre coração palpita...
Eu sofro tanto! meus exaustos dias
Não sei por que logo ao nascer manchou-os
De negra profecia um Deus irado.
Outros meu fado invejam... Que loucura!
Que valem as ridículas vaidades
De uma vida opulenta, os falsos mimos
De gente que não ama? Até o gênio
Que Deus lançou-me à doentia fronte,
Qual semente perdida num rochedo,
Tudo isso que vale, se padeço!

Nessas horas talvez em mim não pensas:
Pousas sombria a desmaiada face
Na doce mão e pendes-te sonhando
No teu mundo ideal de fantasia...
Se meu orgulho, que fraqueia agora,
Pudesse crer que ao pobre desditoso
Sagravas uma idéia, uma saudade...
Eu seria um instante venturoso!

Mas não... ali no baile fascinante,
Na alegria brutal da noite ardente,
No sorriso ebrioso e tresloucado
Daqueles homens que, pra rir um pouco,
Encobrem sob a máscara o semblante,
Tu não pensas em mim. Na tua idéia
Se minha imagem retratou-se um dia
Foi como a estrela peregrina e pálida
Sobre a face de um lago...

Canto Segundo

And her head droo'd as when the lily lies
O'er charged with rain.
Don Juan.


I

Dorme! ao colo do amor, pálido amante,
Repousa, sonhador, nos lábios dela!
Qual em seio de mãe, febril infante!
No olhar, nos lábios da infantil donzela
Inebria teu seio palpitante!
O murmúrio do amor em forma bela
Tem doçuras que esmaiam no desejo
Dos sonhos ao vapor, na onda de um beijo!

II

Que importa a perdição manchasse um dia
A alvura virginal das roupas santas
E o mundo a esse corpo que tremia
Rompesse o véu que tímido alevantas?
E à noite lhe pousasse a fronte fria
Nesse leito em que trêmulo te encantas
E ao batejo venal murchasse flores,
Flores que abriam a infantis amores?

III

Que importa? se o amor teu rosto beija,
Se a beijas nua e sobre o peito dela
Teu peito juvenil ama e lateja!
Se tua langue palidez revela
Que tua alma febril sonha e deseja
Desmaiar-lhe de amor, gemer com ela,
Ébrio de vida, a soluçar d'enleio,
Pálido sonhador morrer-lhe ao seio!

IV

Que importa o mundo além? teu mundo é esse
Onde na vida o coração te alegra!
Teu mundo é o serafim que às noites desce
E que lava no amor a mancha negra!
É a névoa de luz onde não lê-se
Escrita à porta vil a infame regra
Que assinala o bordel à mão poluta
E diz nas letras fundas — prostituta!

V

A essa pobre mulher na fronte bela
Anátema, escreveu a turba fria!
Banhe o remorso o travesseiro dela,
Corram-lhe a mil da pálpebra sombria
Prantos do coração, não há erguê-la
A eterna maldição. E quem diria
A solitária dor, da noite ao manto
Que lavra o seio à cortesã em pranto?

VI

Ah! Madalenas míseras! ardentes
Quantos olhos azuis se não inundam
Nos transes do prazer em prantos quentes
Quando os seios febris em ais abundam,
Que o amante nos óculos trementes
Crê sonhos que do amor no mar se afundam!
Que suspiros no beijo que delira
Que são lágrimas só! que são mentira!

VII

E quantas vezes na cheirosa seda
Da longa trança desatada, solta,
Onde o moço de gozos embebeda
A fronte à febre juvenil revolta;
Quando a vida, o frescor, a imagem leda
De esp'rança que morreu ao leito volta;
As lágrimas na dor ferventes correm...
Como em céu de verão estrelas morrem?

(...)

IX

Amar uma perdida! que loucura!
Mas tão bela! que seio de Madona!
Nunca amara tão nívea criatura
Como aquela mulher que ali ressona!
(...)

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Publicado no livro Obras de Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1862). Poema integrante da série O Poema do Frade.

In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Introd. Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 1959. v.1

NOTA: "O Poema do Frade" é composto de 5 cantos; o segundo é composto de 28 oitava

Panteísmo

MEDITAÇÃO

O dia descobre a terra: a noite descobre os céus.
MARQUÊS DE MARICÁ.


Eu creio, amigo, que a existência inteira
É um mistério talvez; — mas n'alma sinto
De noite e dia respirando flores,
Sentindo as brisas, recordando aromas
E esses ais que ao silêncio a sombra exala
E enchem o coração de ignota pena
Como a íntima voz de um ser amigo,
Que essas tardes e brisas, esse mundo
Que na fronte do moço entorna flores,
Que harmonias embebem-lhe no seio —
Têm uma alma também que vive e sente...

A natureza bela e sempre virgem
Com suas galas gentis na fresca aurora,
Com suas mágoas na tarde escura e fria,
E essa melancolia e morbideza
Que nos eflúvios do luar ressumbra —
Não é apenas uma lira muda
Onde as mãos do poeta acordam hinos
E a alma do sonhador lembranças vibra...

Por essas fibras da natura viva,
Nessas folhas e vagas, nesses astros,
Nessa mágica luz que me deslumbra
E enche de fantasia até meus sonhos —
Palpita porventura um almo sopro,
Espírito do céu que as reanima,
E talvez lhes murmura em horas mortas
Estes sons de mistério e de saudade,
Que lá no coração repercutidos
O gênio acordam que enlanguesce e canta!

(...)

São idéias talvez... Embora riam
Homens sem alma, estéreis criaturas:
Não posso desamar as utopias,
Ouvir e amar à noite entre as palmeiras
Na varanda ao luar o som das vagas,
Beijar nos lábios uma flor que murcha,
E crer em Deus como alma animadora
Que não criou somente a natureza,
Mas que ainda a relenta em seu bafejo,
Ainda influi-lhe no sequioso seio
De amor e vida a eternal centelha !

Por isso, ó meu amigo, à meia-noite
Eu deito-me na relva umedecida,
Contemplo o azul do céu, amo as estrelas,
Respiro aromas, e o arquejante peito
Parece remoçar em tanta vida,
Parece-me alentar-se em tanta mágoa,
Tanta melancolia, e nos meus sonhos,
Filho de amor e Deus, eu amo e creio!

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Publicado no livro Obras de Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1862). Poema integrante da série Lira dos Vinte Anos: Continuação.

In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Introd. Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 1959. v.

TARDE DE VERÃO

Lira dos Vinte Anos
Primeira Parte

Viens!...
Que l'arbre pénétré de parfums et de chants,
.....................................................................
Et l'o,bre et le soleil, et l'onde et la verdure,
Et le rayonnement de toute la nature
Fassent épanouir comme une double fleur
La beauté sur ton front, et l'amour dans ton coeur!
V. HUGO

Como cheirosa e doce a tarde expira!
De amor e luz inunda a praia bela...
E o sol já roxo e trêmulo desdobra
Um íris furta-cor na fronte dela.

Deixai que eu morra só! enquanto o fogo
Da última febre dentro em mim vacila,
Não venham ilusões chamar-me à vida,
De saudades banhar a hora tranqüila!

Meu Deus! que eu morra em paz! não me coroem
De flores infecundas a agonia!
Oh! não doire o sonhar do moribundo
Lisonjeiro pincel da fantasia!

Exaurido de dor e d'esperança
Posso aqui respirar mais livremente,
Sentir ao vento dilatar-se a vida,
Como a flor da lagoa transparente!

Se ela estivesse aqui! no vale agora
Cai doce a brisa morna desmaiando:
Nos murmúrios do mar fora tão doce
Da tarde no palor viver amando!

Uni-la ao peito meu - nos lábios dela
Respirar uma vez, cobrando alento;
A divina visão de seus amores
Acordar o meu peito inda um momento!

Fulgura a minha amante entre meus sonhos,
Como a estrela do mar nas águas brilha,
Bebe à noite o favônio em seus cabelos
Aroma mais suave que a baunilha.

Se ela estivesse aqui! jamais tão doce
O crepúsculo o céu embelecera...
E a tarde de verão fora mais bela,
Brilhando sobre a sua primavera!

Da lânguida pupila de seus olhos
Num olhar de desdém entorna amores,
Como à brisa vernal na relva mole
O pessegueiro em flor derrama flores.

Árvore florescente desta vida,
Que amor, beleza e mocidade encantam,
Derrama no meu seio as tuas flores
Onde as aves do céu à noite cantam!

Vem! a areia do mar cobri de flores,
Perfumei de jasmins teu doce leito;
Podes suave, ó noiva do poeta,
Suspirosa dormir sobre meu peito!

Não tardes, minha vida! no crepúsculo
Ave da noite me acompanha a lira...
É um canto de amor... Meu Deus! que sonhos!
Era ainda ilusão - era mentira!

Álvares de Azevedo (São Paulo SP, 1831 - Rio de Janeiro RJ, 1852) cursou Letras no Imperial Colégio de D. Pedro II, no Rio de Janeiro, e em 1848 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Nos anos seguintes, redigiu os poemas do romance A Noite na Taverna, o drama Macário e ensaios literários sobre Bocage, George Sand e Musset. Em 1849, discursou na sessão acadêmica comemorativa do aniversário da criação dos cursos jurídicos no Brasil. Três anos depois faleceria, sem chegar a concluir a faculdade. Sua obra, que abrange também os poemas da Lira dos Vinte Anos e a prosa do Livro de Fra Gondicário, foi reunida e publicada em 1942. Álvares de Azevedo é um dos principais nomes da segunda geração do romantismo brasileiro. Seus poemas, impregnados do spleen de românticos como Byron e Musset, tratam principalmente da morte e do amor, este freqüentemente idealizado. Outro traço importante da poesia de Álvares de Azevedo, segundo o crítico Antônio Cândido, é “o gosto pelo prosaísmo e o humor, que formam a vertente para nós mais moderna do Romantismo”.
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salvou muito sigma, ?????, obrigado pelo skibidi sigma pomni fortnite mewing rizz ronaldo jr
27/março/2024
virginwojak96024
savou nao buxa,?????, denada pelo toilet beta fodase free fire babidi reverse rizz messi velho
27/março/2024
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27/março/2024
Lara
alguem sabe a data de publicação do poema não aqui no site quando o autor p publicou
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pomnigigachadrizz
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