Eça de Queirós
José Maria de Eça de Queirós, contemporaneamente escrito Eça de Queiroz, foi um escritor e diplomata português. É considerado um dos mais importantes escritores portugueses de sempre. Foi autor de romances de reconhecida importância, de Os Maias e O Crime do Padre Amaro. Os Maias é considerado por muitos o melhor romance realista português do século XIX.
1845-11-25 Póvoa de Varzim
1900-08-16 Paris
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O romancista consagrado por Os Maias iniciou os seus estudos no Colégio da Lapa, Porto, propriedade do pai de Ramalho Ortigão, que ali leccionava francês. Os dois escritores tornar-se-iam parceiros de letras e amigos para toda a vida. Em 1862 ingressa no curso de Direito da Universidade de Coimbra; naquela cidade travou conhecimento com alguns dos jovens estudantes que viriam a tornar-se figuras destacadas da cultura portuguesa - Antero de Quental, Teófilo Braga, João Penha, entre outros membros da chamada «Geração de Setenta» – e assistiu a diversas revoltas estudantis e literárias, destacando-se destas a «Questão Coimbrã» polémica entre os defensores de Antero e os apaniguados de Castilho. Em 1866, Eça foi viver para Lisboa, em casa dos pais e tentou durante algum tempo exercer advocacia, profissão para a qual não se sentia vocacionado. Estreia-se nesse mesmo ano nas letras, ainda influenciado pela corrente romântica, com a crónica «Notas Marginais», publicada na Gazeta de Portugal de A. A. Teixeira de Vasconcelos. No início de 1867 muda-se para Évora, onde dirige e redige totalmente um jornal local, O Distrito de Évora. Em simultâneo continua a publicar crónicas na Gazeta de Portugal, postumamente reunidas no volume Prosas Bárbaras. De regresso a Lisboa em Agosto, reencontra os antigos companheiros de universidade e conhece Jaime Batalha Reis. Fundado o «Cenáculo», tertúlia filosófico-literária, nasce da imaginação de Antero, Eça e Batalha o poeta satânico Carlos Fradique Mendes, cujos folhetins poéticos são publicados n' A Revolução de Setembro em 1869. Surgindo episodicamente em O Mistério da Estrada de Sintra (escrito em colaboração com Ramalho em folhetins do Diário de Notícias, quando Eça era já administrador do concelho de Leiria) a personagem ficcional Fradique Mendes nunca deixaria de estar presente na criação queirosiana: o autor publicou cartas de Fradique no jornal O Repórter, dirigido pelo seu amigo Oliveira Martins e, simultaneamente, na Gazeta de Notícias, periódico do Rio de Janeiro que contou com vasta colaboração de Eça de Queirós. À data da morte do autor, encontrava-se em provas um volume que seria publicado com o título Correspondência de Fradique Mendes, colecção das cartas saídas nos jornais e das «Memórias e Notas» publicadas na Revista de Portugal, que Eça dirigiu entre 1889 e 1892. Mais tarde, outras cartas de Fradique Mendes, deixadas inéditas pelo autor, foram publicadas no livro Últimas Páginas, de 1912, e em 1929 em Cartas Inéditas de Fradique Mendes e outras páginas esquecidas. O ano de 1871 marcou uma viragem na carreira literária de Eça de Queirós, primeiro com o início da publicação dos volumes de As Farpas – de novo em colaboração com Ramalho – e pouco depois com o seu envolvimento nas Conferências do Casino, que, no quadro das preocupações da Geração de 70, decorrentes já de um interesse marcado pela crítica social e pela reforma de costumes. Projectadas no «Cenáculo», proibidas pelo Governo do Marquês de Ávila por serem consideradas subversivas é esse interesse socializante que inspira a adesão queirosiana ao realismo e ao naturalismo. A conferência de Eça, cujo texto se desconhece, ter-se-à chamado «O realismo como nova expressão da arte», e nela o autor terá exposto as linhas que tencionava seguir, a partir daí, para as suas composições literárias. Em 1872 Eça de Queirós é nomeado cônsul de Portugal em Havana e parte para as Antilhas. Enceta, depois, uma longa viagem pela América do Norte, tendo viajado pelos Estados Unidos (Nova Orleans, Filadélfia, Chicago, Nova Iorque) e pelo Canadá, onde visita Montreal. Em 1874 o Diário de Notícias publica no seu «Brinde» anual, o seu primeiro conto de grande fôlego, «Singularidades de uma rapariga loira», já marcado pelo normas realistas que pretende adoptar. Mas é com O Crime do Padre Amaro, sobretudo a partir da segunda versão, que o realismo é mais patente na sua obra, confirmado com a publicação de O Primo Basílio (1880). Por esse tempo Eça, que já fora cônsul de Portugal em Newcastle e se mudara para o consulado português de Bristol, projectara uma série de novelas curtas, as «Cenas da Vida Portuguesa» com que tencionava pintar a sociedade do seu tempo, à maneira da «Comédia Humana» de Balzac e de «Os Rougon-Macquart». Dos títulos projectados ficaram inéditos A Capital!, O Conde de Abranhos e A tragédia da rua das Flores, para além de vários outros títulos que tiveram um desenvolvimento literário muito curto. A partir da década de 1880, Eça inicia uma revisão da sua arte que o afasta, temporariamente, da causa naturalista, publicando livros que, embora continuem a crítica de costumes, são acrescentados de uma dose de fantasia necessária à realização artística do autor: casos de O Mandarim (1881) e de A Relíquia (1887). No entanto, o abandono do projecto das «Cenas da Vida Portuguesa» não fora total. As novelas curtas haviam de fundir-se num grande romance, cuja escrita continua ao longo da década, com o aproveitamento de episódios e personagens-tipo: trata-se, naturalmente, de Os Maias, publicado em dois volumes em 1888. Por esse tempo mudou-se para aquele que viria a ser o seu último posto consular, em Paris. Em 1889 junta-se ao grupo literário-jantante dos «Vencidos da Vida», onde reencontra velhas amizades (Carlos Mayer, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins) e convive com novos amigos (Conde de Ficalho, Conde de Sabugosa, Marquês de Soveral, entre outros), continua a sua colaboração periodística, com crónicas e contos publicados em Portugal e no Brasil. Nos últimos anos da sua vida literária, além de incursões pelo campo da hagiografia, com vidas ficcionadas de santos, Eça escreveu A Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e as Serras. Artista sempre insatisfeito com a sua escrita, Eça voltava muitas vezes aos seus textos, corrigindo-os e reformulando-os. Para além do caso conhecido de O Crime do Padre Amaro, alvo de três campanhas de rescrita, outros textos foram objecto, de forma menos consequente, de cuidados que iam do plano microestilístico ao da construção global da narrativa; obras inacabadas, como A Capital, O Conde de Abranhos, Alves & Cª. ou A Tragédia da Rua das Flores acabaram por ser recuperadas por editores póstumos e apresentadas de forma pouco escrupulosa a um público sempre ávido da literatura queirosiana. A Edição Crítica em curso procura repor o verdadeiro conteúdo dos manuscritos de Eça de Queirós e apresentar ao público os textos tal como o autor os deixou.