Gravura Nordestina
A Eduardo Campos
Este sol é um deus feroz
que dardeja e que incendeia
os esqueletos dos bois.
As redondas oiticicas
são carpideiras de luto
chorando a morte dos brutos.
Em vôos rasantes, ao léu,
os urubus mais parecem
anjos expulsos do céu.
Gaviões roçam de esguelha
as asas martirizadas
nas costelas das ovelhas.
Cigarra, ali,devaneia.
Morre de tanto cantar
em sua concha de areia.
Uma rajada de vento
sacode os gonzos das portas
como se fosse um lamento.
Os leitos secos dos rios
são tumbas de faraós
ou de monarcas fenícios.
Quando o sol chega no vértice
os mandacarus acendem
os seus fanais de quermesse.
Os bichos magros cochilam
à sombra dos juazeiros
à espera de alguma brisa.
O canto da juriti
trespassa as almas dos homens
com seu punhal de vizir.
O balido das ovelhas
assusta as aves e os ninhos
que elas fizeram nas telhas.
Entre esquivâncias e astúcias
jumenta se entrega ao macho
que entorna o vinho das núpcias.
Ao mugido de uma rês
percorre toda a paisagem
um clamor de viuvez.
Nas varandas das fazendas
as redes brancas desenham
corpos que são oferendas.
Ninguém que ouse ou que vá
toldar os sonhos de linho
das moças no copiá.