Guilherme Coutinho
"(...) Não tenho ambições nem desejos Ser poeta não é uma ambição minha É a minha maneira de estar sozinho. (...)" (Alberto Caeiro)
Alguns Poemas
Minha biografia
Será um livro de capa dura,
Dura de abrir.
Para que ninguém tenha vontade de ler
As folhas todas em branco
As páginas numeradas
De acordo com os anos de vida
Nelas escrito nada
Quem quiser saber-me
Leia-me!
E não minha vida contada.
Não terá utilidade,
Só matar curiosidade.
Não sou santo de ninguém
Não faço bem a todo o mundo
Não quero bem a quem me quer mal
Vivo insatisfeito com o exterior
Plenamente confuso em olhar
Inconformado com os valores alheios
Imperfeito sujeito
Predicando sem verbo
Transitando na indecisão
De ser ou não ser
Seja lá o que quer que seja.
Umas dúvidas não tenho.
Eu sou eu e pretendo ser mesmo,
E não sou Deus!
Melhor!
Minha biografia terá um nome
“Sinto muito”
Sem páginas em branco
Uma única escrita
Dito isto:
“Vivi por que não quis existir.
Quem existe é Deus
O que fiz de bom não fui eu
O amor que dei não era meu
O que falei de bom não era meu
Fiz o que quis sempre (escrever)
Tive o que me dei
Quando fui eu mesmo
Deixando de lado o querer entender
O significado ou sentido da vida.
Nada disso existe.
Não me entreguei à sorte
Do desejo, do saber, do conhecer.
Senti muito, demais, coisas ruins e boas.
E tive vida em meu ápice.
Entender-me com Deus”
Mas por enquanto sou vivo
E essa é biografia nenhuma.
Sim ficção criada,
Pelo personagem que ainda sou
E só terei vida vivida depois de morrida.