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Marcelo Felipe Toledo Bortolotto, ou apenas, O louco no ápice dos seus 24 anos, nascido em Curitiba, vivendo em Laranjeiras do Sul, PR. Escrevendo mais do que vivendo, e consequentemente vivendo mais pelas histórias inventadas do que a própria vida.

1997-02-15 Laranjeiras do Sul, PR
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(A)mor(te).

Em uma noite de inverno próximo ao fim do mês de Maio, o ar gélido e petrificante cobria os ares da cidade a noite parecia um retrato sem vida, ou melhor, a vida que se fazia presente estava em estado próximo a da morte, inerte, as ruas da cidade vazias, sem sons de uma cidade movimentada nem grilos ou o canto das madrugadas vindo dos gatos correndo por todos os telhados, a cidade havia congelado por uma noite, como uma paisagem capturada em uma fotografia.
O relógio marcava duas e meia da manhã de uma noite gélida, a insonia vagava livre pelos meus pensamentos, chegando a questionar o que ocorria dentro do quarto escuro e sem vida, e fora pelas janelas que choravam lágrimas frias. O ar frio adentrava o recinto pelas frestas do assoalho velho e mesmo assim ainda resistente, a casa estalava e rangia porém, curiosamente não ventava lá fora.Os cães que guardavam a casa todas as noites, em estado de total alerta e dispostas a afugentar qualquer que fosse, não estavam nem mesmo mostrando disposição na noite em questão. Ouvia alguns ruídos estranhos vindos da cozinha, do banheiro e do lado de fora da casa.
Os sons ecoavam pela sala vazia e fazia estremecer as portas dos meus pensamentos mais medonhos, mesmo com o corpo bem aquecido por rigorosas roupas de inverno, e os pés cobertos por meias quentes de lã ainda assim, o ar parecia fogo ardendo a pele. Não seria estranho dizer, que talvez eu seja a única testemunha capaz de relatar o frio que fazia naquela noite, pois todas as outras almas bem aventuradas já estavam em seu quarto sono da noite, enquanto este que vos fala em palavras frias e quase sem vida, está destinado a passar todas as noites acordado na espera dela.
Olhava em direção a janela do meu quarto enquanto deitado com mais algumas cobertas por cima, sim acredite no que digo, a noite foi de um frio intenso e rigoroso. Enquanto me perdia em pensamentos e com os sons que estava escutando, noto algo peculiar. O quarto que muito escuro estava, foi tomado de um fino véu branco como leite ou como a neve, o que for mais branco dos dois. Uma brisa quente soprava pela janela, mesmo que ela estivesse fechada, e então em aquela existência bela e vaga que via sempre em devaneios noturnos de memórias a muito passadas, adentra o quarto com a pele branca e brilhante e teus pés descalços, vestindo apenas um leve e refrescante véu branco perfumado de mil primaveras. Olho espantado e sem saber como proceder, estava petrificado e sem reação enquanto ainda deitado e envolto pelas cobertas que me aqueciam.
Notei que o quarto estava sendo tomado por vários pontos luminosos e brilhantes, como se o céu e as estrelas fizessem morada no teto do meu quarto.Tinha cabelos quase tão brancos quanto os cravos de um campo de plantações, olhar tênue e limpo de qualquer pecado ou maldade, mãos firmes e pele manchada que me lembravam crateras de um grandioso planeta ou então, as estrelas de uma constelação.Tocou o chão sem fazer barulho algum, e em uma casa de madeira que range a cada passo dado, isto era novidade. Voltou seus olhos para o ser que estava deitado e perplexo com aquilo tudo, estendeu sua mão e disse.
- "É chegada a hora, você sabia que eu voltaria pois foi te avisado em sonhos passados, então cá estou, a tua amante como você me chamava em suas cartas, vim te conceder a última dança."
Me levantei da cama, a qual me protegia do rigoroso frio, toquei o chão com os meus dois pés e me levantei bem diante dela, e olhei profundamente nos olhos, tuas mãos tocaram as minhas. Como descrever aquela sensação, as mãos macias e quentes de uma dama de branco que adentrou meu quarto pela janela fechada, e as minhas mãos gélidas e tremulas como as de quem sente frio e medo, olhando maravilhado aquela encantadora e majestosa presença há minha frente.Foi quando novamente ela me disse.
- "Olhe só você, está lindo, exatamente como eu estou, limpo puro e pronto parar a última dança sem arrependimentos."
Foi ai que me dei conta, olhando para o meu corpo em pé na frente dela, de que eu também estava vestido de branco dos pés a cabaça e por falar em pés, estes estavam igualmente descalços. Dançamos nossa última e prometida dança, com muito louvor e alegria. Ao final, ela me disse olhando bem no fundo dos meus olhos.
- " Vamos agora, é chegada a hora, a sua última dança na terra já se acabou, venha comigo dançar eternamente nos céus recheados de estrelas magnificas e brilhantes."
Pegou em minha mão, e me levou ao mais elevado espaço, ao lado de todas as outras estrelas e lá dançamos até o fim dos dias.
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