Kanienga L. Samuel - José

Kanienga L. Samuel - José

Técnico de Construção Civil, Poeta e Pensador Cristão. ''Percorro as veredas do conhecimento com muito amor, paciência e prudência, para não tropeçar e cair no abismo da ignorância.''

1998-03-02 Mbanza Congo - Zaire, Angola
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ENTRE O AMOR E A RAZÃO

Apaixonei-me por um cão lindo, há um tempo atrás,
Estava a venda a um preço acessível – era tudo bom de mais!
Então paguei sem pensar duas vezes, sem olhar para atrás,
Até ver as consequências que a escolha pela beleza traz.

E então fui colocado entre o Amor e a Razão,
Por um lado, eu o amava; por outro, era um péssimo cão,
A pesar de crer que o sentimento não deve se sobrepor a razão,
Ignorei o que a Mente dizia e segui o Coração.

Apesar de já enxergar os seus defeitos no princípio do caminho,
Não quis desistir do mesmo, afinal era só cachorrinho.
Com esperança de que mudaria – não precisava ser um santinho –,
Lhe pus no meu coração, e lhe dei amor e carinho.

E o tempo foi passando...
Em cada momento lindo vivido fui cada vez mais me apaixonando,
O cão lindo foi crescendo, mas infelizmente não mudando,
Então, a esperança e a paciência começaram se esgotando.

E então fui colocado entre o Amor e a Razão,
Por um lado, eu o amava; por outro, era um péssimo cão,
A pesar de crer que o sentimento não deve se sobrepor a razão,
Ignorei o que a Mente dizia e segui o Coração.

O saco da paciência encheu, mas não conseguia desfazer-me dele,
Por um lado, os seus mil defeitos; por outro, eu amava ele;
Então, frustrado e sem querer, passei maltratando ele,
Matando aos poucos o sentimento de amor por mim que estava nele;

Passei a dar-lhe apenas abrigo e alimentação,
E ele estava sofrendo, pois não lhe dava carinho e atenção.
Eu já estava decido, já tinha escolhido a separação,
Decidi seguir a Mente e ignorar o Coração.

Mas, muito antes da oficial separação,
O vizinho que o deseja aproveitou-se da confusão,
Em minhas ausências o chamava e lhe dava não só alimentação,
Como também amor, carinho e atenção.

Então, o cão mordeu-me e refugiou-se naquele vizinho,
Apesar de doer o coração, decidi seguir sozinho,
Não foi pela mordida que me desfiz daquele cãozinho,
E sim pelos seus mil defeitos, notados no princípio do caminho.

E como apesar dos mil defeitos eu o amava,
Saber que estávamos separados doía-me bastante na alma,
Mas quando eu via o quanto o vizinho comemorava,
Conhecendo o cão, não sabia se sorria ou se lamentava.

Assim eu estive, entre o Amor e a Razão,
Por um lado, eu o amava; por outro, era um péssimo cão,
E como penso que o sentimento não deve se sobrepor a razão,
Apesar da dor, segui o que a Mente me disse e ignorei o Coração.

África, Angola – Luanda, 2020.
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