Paulo Sérgio Rosseto
Porto Seguro/BA. Poeta.
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1960-04-11 Guaraçai - SP
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QUALQUER DIA
Eu viajava nos bancos verdes ímpares, com o nariz colado aos vidros das janelas dos vagões marrons da classe dois da NOB. Via o capim deitar-se na curva íngreme da linha, com o vento das rodas de ferro zoando alto no entremeio da cancela. Eram madrugadas frias e tardes ensolaradas, viagens por onde os sonhos seguiam ou vinham nas bagagens arranjadas. Sempre aguardava por alguém chegando de longe. Sonhava com quem a me esperar na plataforma dos trens que partiam e arremessavam apressados. No compasso dos trilhos no aço o coração se debatia, embalado pelo ritmo da serpente da locomotiva, e na ansiedade a espera se esvanecia. Eram histórias que se entrelaçavam. Em cada estação um encontro imprevisto, onde destinos certamente se cruzariam. Na plataforma, olhares se encontravam em meio ao calor que escapava da máquina, e o tempo suspendia, os segundos paravam. Nos bancos verdes ímpares, eu me perdia nas paisagens que se desdobravam pelas janelas, e na magia que o caminho era capaz de trazer. Via campos vastos e cidades que dormiam, rios serpenteando entre o mato nas matas, e na viagem eu por inteiro corria. Às vezes o sol se punha o céu tingia, e a cantiga do apito ecoava como súplicas que a natureza da gente ouvia. No vai e vem dos trens histórias se escreviam. Eu era apenas um passageiro a contemplar a dança das estações, os destinos que seguiam. Na imensidão dos trilhos eu me encontrava viajando não apenas pelos cerrados, mas no tempo, nas lembranças onde a recordação me embalava. E hoje mesmo distante desse ensejo vivido guardo com carinho cada momento cada instante sentado nos bancos verdes ímpares que me conduziam. Em minhas memórias as viagens são eternas, e a poesia dos trens da NOB continuam a ecoar na alma de viajante que sempre será verdadeira.
Um último trem virá me apanhar, qualquer dia.
Um último trem virá me apanhar, qualquer dia.
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