SergioBVianna

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1994-02-08
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Lilith

És tão bela e amena como um dia de verão… 

Não, poema errado. 

Se em meus brados te acordo 

Entre as tumbas esquecidas 

É porque de ti ainda não me desfiz. 

 

Se em teu seio eu me fiz feliz 

Um parceiro para esta vil vida 

Então aqui retorno para fazer meus votos 

Do meu sangue eu te dou 

De meu coração abro mão 

 

Tudo para lhe retomar a razão 

Te trazer de volta ao perdão 

 

Caminhei ao teu lado pelos campos escuros 

Onde sol algum tocaria nossas peles 

De mãos dadas pelas lápides, proferimos promessas 

Destas apenas da morte você ainda a cumprir 

 

Em teus olhos vermelhos 

Dos lábios escuros 

Do cabelo da noite 

A ti me entrego por inteiro 

 

Seu fiel escudeiro 

O cavaleiro negro 

Do castelo de pedra 

Que tombaria céu ao chão 

Congelaria o inferno em prisão 

 

Se de tua alma a me escapar 

Então não terei escolha senão me matar 

Para do outro lado continuar sendo teu bardo 

Que ao cantar minhas letras 

Tão perdidas em trevas 

Te encontrem no amor, por onde escondo minha dor. 

 

No véu negro da noite 

Por onde anda teus pés 

Me farei teu refém

Que leve para o além 

Onde ninguém me retém. 

 

Deitados em caixões 

Sem velas em porões 

Te abro minha veia 

Como quem uma torneira 

E deixo escorrer, do elixir de viver 

 

Voando no céu pelos ares de véu 

Um morcego qualquer 

A procura de fé 

Caindo aos teus pés 

Carente por sangue 

Em teu seio crispado. 

 

Lilith, minha Rainha do amor 

Se nos outros causa pavor 

Saiba que em mim nunca faltará calor 

 

És tão bela e amena como meia-noite de inverno 

Onde o frio emplaca o sentimento que mata 

Em teu vestido negro salpicado de rubro 

Rubis de um vinho nada caro em te dar 

Te beijo no infinito prazer 

Onde sei que nunca vou te perder 

 

Nesta lua tão branda que em meu sentimento espanta 

Qualquer medo do escuro 

Que num passado soturno 

Aguardei por você, em cada sombra na parede 

Cada sussurro no escuro 

Uma mão em meu peito 

 

Um latejar imperfeito 

De quem te ama no leito. 

 

(Lilith, 24/04/2023)

*Poema escolhido pelo concurso do Projeto Apparere, e publicado em livro físico na 7º Coletânea de Poemas, Sonetos e Cordéis. 

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