SergioBVianna

SergioBVianna

Procure pelo meu livro de poemas "Nas Belezas Sepulcrais de se Estar Abraçado à Solidão" no link!

1994-02-08
381
0
0


Alguns Poemas

Te Dedico

Dedico o meu tempo a alguém que nunca me amou, 

Seja em prosa, em música ou em letras maiúsculas, 

Gritadas pelas paredes ocas de meu coração. 

Coração, este em que guardo as piores delas 

Como em sepulcros soturnos, 

Por vezes aberto apenas como um desejo mórbido 

De lembrar de nós dois. 

 

Por onde andas tu?

Ainda omitindo, mentindo

Para quem lhe entregou seu coração? 

Ainda fingindo sentir, algo que seu frio reinado de gelo, 

Congelou e matou, para nunca mais se levantar? 

 

Por onde passa, seus amantes se tornam estátuas 

Impedidos de saber o que é amar. 

Um reflexo das traições que não apenas perfuram, 

Mas destroem e corroem as almas. 

 

Eu lhe entreguei minha vida, minhas promessas 

Eram sinceras. O meu amor não era de brinquedo, 

E por isso jamais seria quebrado, embora brincado 

Jogado fora, largado como um salto alto arrebentado. 

 

Como aquele usado na noite 

Em que o outro beijou teus lábios.

Os lábios usados nos meus, 

As mentiras usadas em meu ouvido. 

E eu acreditando, indo dormir com o seu 

“Te amo”. 

 

Ao partir, tudo que perdi foram 

Falsidades e o controle de você sobre mim. 

Não me deixando enxergar, 

Não me deixando lutar. 

Me mantendo preso ao que eu acreditava de você.

 

Hoje, não sei quem era. 

Para onde foi, ou para quem mente. 

Mas sei que nunca alguém amará como eu, 

Te entregará o corpo e a alma sem pestanejar. 

Sempre ali para te ajudar. 

 

Nem o pacto com o diabo custaria tão caro. 

Aliás, prefiro ele a você. 

 

Ao partir, você perdeu um amor de verdade. 

Ao partir, eu enfim ganhei liberdade. 

 

(Te Dedico) 

*Poema escolhido pelo concurso “Poetize 2024”, e publicado em livro físico pela editora Vivara Editora Nacional. 

Lilith

És tão bela e amena como um dia de verão… 

Não, poema errado. 

Se em meus brados te acordo 

Entre as tumbas esquecidas 

É porque de ti ainda não me desfiz. 

 

Se em teu seio eu me fiz feliz 

Um parceiro para esta vil vida 

Então aqui retorno para fazer meus votos 

Do meu sangue eu te dou 

De meu coração abro mão 

 

Tudo para lhe retomar a razão 

Te trazer de volta ao perdão 

 

Caminhei ao teu lado pelos campos escuros 

Onde sol algum tocaria nossas peles 

De mãos dadas pelas lápides, proferimos promessas 

Destas apenas da morte você ainda a cumprir 

 

Em teus olhos vermelhos 

Dos lábios escuros 

Do cabelo da noite 

A ti me entrego por inteiro 

 

Seu fiel escudeiro 

O cavaleiro negro 

Do castelo de pedra 

Que tombaria céu ao chão 

Congelaria o inferno em prisão 

 

Se de tua alma a me escapar 

Então não terei escolha senão me matar 

Para do outro lado continuar sendo teu bardo 

Que ao cantar minhas letras 

Tão perdidas em trevas 

Te encontrem no amor, por onde escondo minha dor. 

 

No véu negro da noite 

Por onde anda teus pés 

Me farei teu refém

Que leve para o além 

Onde ninguém me retém. 

 

Deitados em caixões 

Sem velas em porões 

Te abro minha veia 

Como quem uma torneira 

E deixo escorrer, do elixir de viver 

 

Voando no céu pelos ares de véu 

Um morcego qualquer 

A procura de fé 

Caindo aos teus pés 

Carente por sangue 

Em teu seio crispado. 

 

Lilith, minha Rainha do amor 

Se nos outros causa pavor 

Saiba que em mim nunca faltará calor 

 

És tão bela e amena como meia-noite de inverno 

Onde o frio emplaca o sentimento que mata 

Em teu vestido negro salpicado de rubro 

Rubis de um vinho nada caro em te dar 

Te beijo no infinito prazer 

Onde sei que nunca vou te perder 

 

Nesta lua tão branda que em meu sentimento espanta 

Qualquer medo do escuro 

Que num passado soturno 

Aguardei por você, em cada sombra na parede 

Cada sussurro no escuro 

Uma mão em meu peito 

 

Um latejar imperfeito 

De quem te ama no leito. 

 

(Lilith, 24/04/2023)

*Poema escolhido pelo concurso do Projeto Apparere, e publicado em livro físico na 7º Coletânea de Poemas, Sonetos e Cordéis. 

O Bolo

A escuridão era tão fechada 

Que de fechada se formou um bolo 

Um bolo fofo e escuro 

Que aos poucos engolia o mundo

Deveria ser engolida como bolo 

Mas como era escura como mofo 

O mundo foi tomado pela escuridão 

 

Eu a manuseei nas mãos 

Tão fofa e escura 

Que me fazia querer ver a lua 

Para talvez iluminar dessa massa escura 

Que de um bolo soturno 

Eu sabia ser o fim do mundo 

 

A mordi como se fosse o fim 

O fim de tudo 

De mim e do mundo 

De você e eu 

Quase me engasguei ao notar 

As notas pesadas de escuridão 

O pecado original 

Em sua total devassidão 

 

As asas formavam de massas escuras 

O bolo tinha asas 

Mas apenas de moscas ousadas 

Ela crescia em fúria dentro de mim 

A escuridão planava e zumbia 

Crescia e fugia 

Tomava meu corpo 

Como um bolo escuro 

Que tomou do mundo 

Toda a luz do fim do túnel 

 

Nem ao menos era de chocolate minha escuridão 

Era do mofo mais antigo do mundo 

Do odor acre que perpetua os pensamentos ruins 

A mordi com uma careta 

Mas as asas tentavam fugir pelas minhas orelhas 

 

Patinhas irresistíveis como o suplício 

De um chocolate amargo esquecido num prato 

Essa escuridão estranha 

Se tornou o mofo de minhas entranhas 

E de meu peito fez morada enlutada 

Tão pouco amada 

Por ter roubado da lua 

Toda a luz que habitava 

Num corredor escuro 

Na luz do fim do túnel 

O fim do mundo 

O fim de tudo 

 

O bolo estranho em meu prato 

Foi devorado em pedaços 

Escuro como os confins do mundo 

Agora bate asas para encontrar seu fim sozinho 

A escuridão do limbo 

Moscas negras que voam sem destreza 

É dessa infeliz tristeza 

Que elas se alimentam 

Para serem o bolo negro do meu peito 

 

Cansei de me ver perdido em versos 

Perversos como uma mosca escura 

Que foge da lua 

Enquanto paira pelo bolo de mofo 

Que comi aos poucos 

E agora sinto do estorvo 

De continuar essa caminhada 

Sem doce nem nada 

Apenas do amargo largo 

Que deixei todo quebrado 

 

De joelhos no chão 

O bolo negro me deu indigestão 

Sinto corroendo minhas entranhas 

A noite tomando a lua 

Tirando do céu, o pouco que resta do véu 

Não era a noiva que eu queria tirar para dançar 

 

Abro meu peito em completo desespero 

Uma nuvem de escuridão zomba de mim 

Atravessa pela noite se fundindo aos açoites 

A luz paira outra vez 

Diante de mim, 

Mesmo antes do fim 

 

Obrigado por não me deixar partir 

As moscas saíram de mim 

Agora já posso dormir 

E fingir que nunca vim aqui 

 

Nunca um chocolate amargo 

Me custou tão caro 

 

(01/12/2023, O Bolo)

O Rato

O roto rato 

Sujo de esgoto 

Perdido no desgosto 

De se ver tão morto. 

 

Mudaria minhas vestes

Trocaria minhas botas

Botaria do perfume 

Em que o cheiro fosse doce

Como sua alma que adoece 

Me entristece, 

Feito uma prece rupestre

Onde nada lhe apetece.

 

Mas aqui estou 

Diante de ti 

Ajoelhado pra ti 

Morrendo por migalhas 

De um amor cheio de falhas. 

 

Me alimente, por favor 

Já não aguento sentir dor 

Venho aqui dos confins do mundo

O rei do submundo 

Minha capa e meu escudo 

Soturnos como os buracos 

De onde saio, me parto 

Em direção ao fardo 

Que é confundir amor 

Pela dor de se fazer favor. 

 

Me perdoe pela pressa 

Se lhe faltei com a educação 

Mas este rato desgraçado 

Está cansado do asfalto 

Por onde patas se arranham 

Pelos que caem 

Amores que iludem. 

 

Se fui feito de teste 

Até onde poderia ir 

Saiba que morri por ti 

No momento em que a vi 

Agora, aqui 

Vendo-a sorrir 

Sinto suas mãos se fechando 

Ouço meus ossos se quebrando 

De meus olhos emana o pavor 

Por onde os lábios se perdem o calor. 

 

O corpo que desce 

Escorre e se perde

Pelas águas das ruas 

Onde as lágrimas das chuvas

Me guiam para o fim 

Indo para onde saí. 

 

Dali não deveria ter sonhado 

Em ser príncipe encantado 

Apenas um roto rato 

Onde amores verdadeiros 

Não mudam o que os olhos 

Enxergam por inteiro. 

 

Morto e sem dinheiro 

Largado ao desespero 

Amaldiçoado por teus beijos 

Onde apenas sonhei em meus anseios. 

 

Sábio aquele é 

Que sabe o que quer 

Sem esperar pelo amanhecer 

Onde o príncipe se muda por inteiro 

Um monstro sem valor 

Contigo por clamor. 

 

Nunca saberemos como seria 

O rato roto te amando 

Noite e dia. 

 

(O Rato, 03/05/2023)

Melancolia

A melancolia era como um raio

Um raio azul que me atingiu 

Tingiu o mundo do mais terrível azul 

 

Era um oceano onde eu me afogava 

Mergulhava tão fundo 

Que por vezes não queria retornar 

 

Enxergava do mundo 

Como por uma fresta de porta 

Aberta, entreaberta 

A boca que me dizia coisas 

Ininteligíveis 

Mas ela se fechava como uma rajada 

 

De um raio tão azul 

Que deixava marcas em meu corpo 

A eletricidade que trouxe um louco à vida 

Poderia ser o que tiraria o de outro louco 

Mesmo que um pouco 

Mesmo que por pouco 

Não estava eu tão louco? 

 

Talvez nunca normal 

Não ao ponto de saber a diferença 

 

Pela fresta azul da boca de um oceano 

Desembocava o raio que mataria os loucos 

Mesmo que afogados em seus raios 

Os loucos, perdidos 

Pediam por raios 

 

Mas eram azuis 

Do azul da solidão 

Da melancolia que atraía depressão 

A porta que se fechou 

Profetizou meu coração 

Fechado para o agrado 

Apenas louco desvairado 

 

Coração cheio de raios 

Que contornavam em veias azuis 

Saturadas de dor 

A melancolia era uma veia azul inchada 

Causava arritmia ao se ver tão linda 

Arrebentava em frios raios azuis 

A pulsação azul de quem enlouqueceu ao se fechar a porta 

 

Mas eram dos raios que eu tinha medo 

O alto ribombar de um coração batendo 

A porta que fechava no escuro 

Deixando em trevas o azul noturno 

 

Era do azul que eu tinha medo 

O raio que cruzaria meu coração 

Partiria das veias da decepção 

Um último suspiro ininteligível de um louco

O trovão do ribombar de um coração 

A porta se abre para um oceano azul 

 

Mas era da melancolia triste 

Azulada e inchada 

Que deixava escapar 

De um último raio azul 

Que matava afogado aquele louco 

Num oceano de raios azuis 

Onde apenas ao fechar da porta 

Que se manteria aberta o azul que importa 

 

(Melancolia, 04/11/2023)

Em Todo Lugar

Às vezes é apenas um tiro 

Direto na testa, assim que interessa 

Nem ao menos precisa de festa 

Ô Capitão, homem ao mar! 

Relaxa, é apenas mentira 

Cinzas de um reles mortal

Partindo em direção ao umbral. 

 

Na espuma do mar, o meu desfazer a se realizar 

Como café ralo, nem ao menos deixa amargo. 

 

Milhares de mim, correndo sem fim 

Indo ao fundo e voltando 

Me fundindo e recriando 

O cristalino do mar a me levar 

O sol sempre ao meu redor. 

 

Nunca me senti completo enquanto vivo 

Agora vou aprendendo, descobrindo 

Vivendo de uma vida que nunca pude ter 

Em cada momento, em cada destino. 

 

Nesses pequenos grãos que viajam 

Vou evoluindo e fluindo 

Senti mais do sol do que em toda a minha vida 

Aprendi com pessoas de idiomas que eu nem ao menos conheço 

Senti da chuva que alçava as ondas em direções furiosas 

Esbarrei em animais que nem ao menos notaram minha presença. 

 

Em algum lugar, minha consciência continuava a navegar 

Aprendendo de tudo, de cada pedaço perdido pelo mundo 

Nunca enxerguei do fim que me prometeram 

Apenas senti o prazer de ser livre. 

 

Passando pelas portas do universo 

Me tornando a poeira que avançou pelo vento 

Me fundindo a novas terras, novos horizontes 

Em novos planetas, sendo parte do chão de uma nova civilização 

Pelo céu voando como qualquer ave que nunca há de cair. 

 

Saiba que no dia em que parti 

Nunca foi tão fácil de me encontrar. 

 

 

(Em Todo Lugar, 24/04/2023)

*Poema escolhido pelo concurso “Poesia Br”, número 6, publicado em livro físico pela editora Versiprosa. 

Quem Gosta

Seguidores