SergioBVianna
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O Bolo
A escuridão era tão fechada
Que de fechada se formou um bolo
Um bolo fofo e escuro
Que aos poucos engolia o mundo
Deveria ser engolida como bolo
Mas como era escura como mofo
O mundo foi tomado pela escuridão
Eu a manuseei nas mãos
Tão fofa e escura
Que me fazia querer ver a lua
Para talvez iluminar dessa massa escura
Que de um bolo soturno
Eu sabia ser o fim do mundo
A mordi como se fosse o fim
O fim de tudo
De mim e do mundo
De você e eu
Quase me engasguei ao notar
As notas pesadas de escuridão
O pecado original
Em sua total devassidão
As asas formavam de massas escuras
O bolo tinha asas
Mas apenas de moscas ousadas
Ela crescia em fúria dentro de mim
A escuridão planava e zumbia
Crescia e fugia
Tomava meu corpo
Como um bolo escuro
Que tomou do mundo
Toda a luz do fim do túnel
Nem ao menos era de chocolate minha escuridão
Era do mofo mais antigo do mundo
Do odor acre que perpetua os pensamentos ruins
A mordi com uma careta
Mas as asas tentavam fugir pelas minhas orelhas
Patinhas irresistíveis como o suplício
De um chocolate amargo esquecido num prato
Essa escuridão estranha
Se tornou o mofo de minhas entranhas
E de meu peito fez morada enlutada
Tão pouco amada
Por ter roubado da lua
Toda a luz que habitava
Num corredor escuro
Na luz do fim do túnel
O fim do mundo
O fim de tudo
O bolo estranho em meu prato
Foi devorado em pedaços
Escuro como os confins do mundo
Agora bate asas para encontrar seu fim sozinho
A escuridão do limbo
Moscas negras que voam sem destreza
É dessa infeliz tristeza
Que elas se alimentam
Para serem o bolo negro do meu peito
Cansei de me ver perdido em versos
Perversos como uma mosca escura
Que foge da lua
Enquanto paira pelo bolo de mofo
Que comi aos poucos
E agora sinto do estorvo
De continuar essa caminhada
Sem doce nem nada
Apenas do amargo largo
Que deixei todo quebrado
De joelhos no chão
O bolo negro me deu indigestão
Sinto corroendo minhas entranhas
A noite tomando a lua
Tirando do céu, o pouco que resta do véu
Não era a noiva que eu queria tirar para dançar
Abro meu peito em completo desespero
Uma nuvem de escuridão zomba de mim
Atravessa pela noite se fundindo aos açoites
A luz paira outra vez
Diante de mim,
Mesmo antes do fim
Obrigado por não me deixar partir
As moscas saíram de mim
Agora já posso dormir
E fingir que nunca vim aqui
Nunca um chocolate amargo
Me custou tão caro
(01/12/2023, O Bolo)