PilotoTribal
Só deixando salvas as sessões de terapia comigo mesmo. Eu, um bloco de notas e um filtro de censura desligado. Desabafos, alguns questionamentos sobre esses desabafos, e encerrando com o trecho de uma música querida que faz sentido no momento.
Eu sempre quis ser pro mundo o que o mundo nunca foi pra mim
Há uns dias atrás, essa frase veio muito forte na minha cabeça. Essa frase surgiu pra mim, DO COMPLETO NADA, enquanto pensava em outras pessoas... Pessoas específicas, inclusive. Talvez esse plural seja até um excesso desnecessário.
Retribuí violência física, emocional e sexual com abraço, sorriso e acolhimento. Minha cabeça fica tentando entender onde está o erro: na minha tentativa de agradar, ou na minha tentativa de não me entregar à resposta óbvia desses estímulos?
Já percebi que sou uma pessoa que normalmente escolhe o caminho mais fácil ou cômodo. Mas aqui, nesse "minúsculo" aspecto da minha vida, quando todas as minhas forças poderiam resultar em revolta e violência, acabei tomando um outro caminho. Talvez, ao invés de ser o motivo de mais uma pessoa se sentir como eu, eu queria ser o abraço dessa pessoa. E isso não é ou foi nada cômodo.
Normalmente sou uma pessoa que se afasta de tudo e todos. Talvez porque tenha aprendido que praticamente tudo que se aproximou de mim trouxe problemas. Então o melhor é só evitar mesmo.
Acho que não à toa tatuei essa frase no meu braço: "Desaparecer dói menos que pedir ajuda". Sempre fez muito sentido pra mim. E escutar uma música em que, resumidamente, para ter uma vida melhor a pessoa se transformou em um espantalho, vazio, sem vida, sem sentimentos e com um sorriso rabiscado no rosto, fez sentido de tantas formas diferentes que acabou indo pra pele.
Meus esportes radicais, as artes marciais e o jeito inconsequente de lidar com a vida ajudam com os pensamentos intrusivos. Naqueles pequenos instantes de loucura ou em que eu estava autorizado a bater em algo/alguém, sou só eu pensando comigo mesmo. Nunca fui à extremos, mesmo que extremo seja uma questão de perspectiva. Mas algumas coisas já passaram na minha cabeça. E se? Me agarrei com as forças que sobravam no que eu tinha, e esse "e se?" nunca saiu do papel. Mas e se?
Aprendi a pedir desculpas. Mais do que deveria. Mesmo quando não deveria. Mas sempre tentei dar esse passo. Confesso que as vezes falhei por orgulho, mas tentei. As vezes a palavra era pesada demais pra sair do meu peito, mas um chocolatinho e um abraço não faz mal a ninguém e deixa subentendido...
Ou será que não?
Será que foi compreendido dessa forma pelas pessoas?
E se todos pedissem desculpas dessa forma, o que poderia acontecer? Será que tudo ficaria mais em paz ou a palavra "desculpa" ficaria mais vazia e cliché que "tudo bom?/estou bem e você?" ou o famigerado "eu te amo"? Dos questionamentos que eu costumo fazer nessas conversas comigo mesmo, quase num tom de esquizofrenia, essa resposta aqui eu nunca vou ter.
Mas eu também aprendi a amar por inteiro. Aprendi a abraçar. Aprendi a sentir o cheiro do cabelo de um amigo dentro desse abraço. Aprendi a segurar uma mão e dizer que vai ficar tudo bem. Aprendi a dar um sorriso e dizer "se você precisar, meu abraço está aqui". E sempre está.
Se você não me afastou de você, talvez você tenha sido capaz de testemunhar que isso é verdade. Se você não conseguiu isso, peço desculpas, tive que seguir. Meu coração entende apenas dois comandos: gostar ou ir embora. Seja com família, seja com amigos, seja com amores.
(E eu me pergunto aqui: quem é esse você? Eu sei que vou no máximo mostrar isso pra meia dúzia de pessoas, mas cabem diversos vocês nessa conversa que nunca saberão que isso ocorreu)
Essa minha cara de bravo, de estressado, ou o meu tom de voz, as vezes pode te preocupar. Mas se me perguntar se tá tudo bem, eu vou dizer "estou bem" com um sorriso, as vezes forçado, pra não transparecer todas as brigas internas. Entranhas devorando entranhas. Mas o sorriso estará lá.
Vejo que no fim das contas, tudo que eu ofereço é tudo aquilo que sempre precisei. Abracei por precisar de um abraço. Em muitos momentos, lá no fundo do poço, quando tudo sufocava, as vezes um abraço seria a mão estendida, e mesmo com tantas pessoas que diziam se importar, nunca veio. Então eu aprendi a sinalizar a disponibilidade do meu abraço. E já me sujeitei a tanta coisa pra ganhar esse bendito abraço...
Amei por precisar ser amado. Amar por inteiro não era uma opção. Era uma necessidade. Necessidade de ter por perto alguém que, ao sentir que está sendo amado, retribuiria essa completude para mim. Não deu certo totalmente, como posso ver pela minha situação atual, mas deu certo enquanto durou. Se deixou de dar certo, foi porque em algum momento, deixou de fazer sentido toda essa energia gasta.
E aprendendo a amar, aprendi a dividir as pessoas em caixinhas, tendo consciência plena de qual caixinha cada um ocupa. Os amigos, os amores, os sexos ardentes e a família. Cada um com a sua importância, mas todos que eram importantes o suficiente para serem mantidos nessas caixinhas (que sofriam limpezas de tempos em tempos) tinham 100% de mim, mesmo que eu não encontrasse 100% nelas.
Hoje não sou a pessoa mais fácil de lidar. Mas olhando pra dentro, consigo ver que sou uma pessoa bem melhor do que está aqui na minha cabeça. No fundo, acho que isso já parou de tentar sair de mim. Essa angústia misturada com rancor e raiva já entendeu que se ela quiser continuar existindo, vai ser ali, na minha caixinha do sofrimento (que eu costumo me referir como a Caixa de Pandora). E essa caixinha é só minha. Toda vez que precisar ser aberta, o farei em silêncio e distante de todos. Até porquê quando ela é aberta, o rio é grande...
Mas guardar essa caixinha à sete chaves não é uma escolha. Eu já caí na besteira de deixar ela se abrir, e todas as vezes que isso aconteceu, a reação das pessoas foi muito dura. Quando tentei transparecer o que realmente estava aqui, assustei pessoas. Então com essa caixinha eu tomo mais cuidado, e tenho consciência que ela é só minha.
Talvez a pergunta central de tudo isso seria: fazer isso tudo pros outros pensando que lá no fundo eu vou estar satisfazendo uma necessidade minha me transforma no quê? Um manipulador? Dissimulado? Egoísta? Aproveitador? Não consegui justificar o questionamento dessa atitude com um adjetivo bom... Se for isso mesmo, deixar os meus sentimentos se apropriarem da frase do título do texto vai me fazer parecer ainda pior...
Eu já fiz perguntas demais pra mim enquanto escrevia, e talvez pra algumas delas eu talvez não queira saber a resposta. Então vou me permitir chegar a uma conclusão, talvez faça mais sentido.
Se você me ver e for um amigo, vista seu melhor sorriso e me abrace. (olha lá o "você" aparecendo de novo, seu maluco)
Se a caixinha que você está te permite: me beije. Me ame. Aproveite do meu corpo de forma consentida e mostrando que somos dois querendo estar naquele momento, seja ele qual for.
Mostre o quanto eu importo simplesmente por existir aqui, desse jeito.
Eu sou o resultado de tudo de ruim que aconteceu comigo, mas que eu tentei fingir não terem importância no meu dia-a-dia pra dar importância aos outros. E provavelmente por sua causa, eu ainda brigo com esses fantasmas pra evitar que eles te assombrem. Essa parte vai fazer bem mais sentido com a música do final...
Tirei o que estava na minha cabeça e coloquei aqui. Agora falta mostrar isso aqui pra todos, de alguma forma, pra que talvez eles entendam que por mais que eu esteja longe de ser um super herói de capa, eu também não sou o vilão, não enquanto eu estiver ganhando essa briga interna. Só posso prometer força. Pudera isso chegar a todos os "vocês" desse texto.
"...Entenda que dentro de mim
Tem tanta coisa pra eu resolver
Essa casa eu tenho que arrumar
Pra poder receber você
A minha casa é assombrada
São meus esses fantasmas
Por onde quer que eu vá
Comigo sempre vou levar
E é só a mim que eles vão atormentar..."
(11/Out/2024)