Soneto do Efêmero

Adeus às essências de cristal polido,

aos véus que enganam mãos sedentas de verdade.

A poesia não cultiva o imutável — habita

o instante em que o caos, vestido de ritmo,
 

devolve ao olho bruto o seu próprio reflexo,

sem mentira, sem mapa, sem nome. Não há

consolo no verso, só o corte súbito

que sangra sentido no branco da página.


Celebra o efeito, não a causa; o tremor,

não o osso. Desfaz certezas como um vento

que apaga seu rastro na areia molhada.


O informe, sob a máscara do compasso,

cuspindo de volta o que nunca foi nosso,

um espelho sem fundo, um fogo sem brasa.

152
0

Mais como isto



Quem Gosta

Quem Gosta

Seguidores