HOMENAGEM AO 25 DE ABRIL *
É aqui, longe das praias solitárias
que eu ouço a voz das águas
e as canções do mar. E o mar
que não é português, nem grego ou brasileiro
despeja suas ondas em meus versos
que se recusam a caminhar sozinhos.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
E é em pé e de cabeça erguida que
eu chamo os poetas da nossa língua:
Camões, Fernando Pessoa, Castro Alves
E todos que manifestaram nosso lirismo
sem esquecer que as palavras tem garras
E podem ajudar a transformar o mundo.
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Eis aí o mistério poético e marinho
Que mistura nossas almas e nos torna
Navegantes e resistentes. As cartas
de marear são belas mas a poesia está nas
ruas, nos seios das mães e nas funduras
sociais da língua. Importante é a travessia
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!
Sim, o mundo era outro. Eu também era outro
Mas a voz do mar era sempre a mesma.
E apesar da terra girar, Portugal continuava
Com Sal e Azar e as colônias africanas
Mas às 22h55 do dia 24 de abril de 1974
As rádios de Lisboa tocaram a canção-senha
Que deu início ao movimento libertário.
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Na celebração desse Abril, um quadro
Ficou famoso. Trazia um título sugestivo:
"A poesia está na rua". E foi ocupando
As ruas que o povo português mostrou
Com cravos vermelhos amansando fuzis
que a soberania popular pode ser
Sufocada-mas não pode ser morta.
Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
* esta poema foi lido no plenário da Câmara Municipal de São Paulo, nas comemorações dos 39 anos da Revolução dos Cravos