Epopeia

Sou Capitão de navios; as almas
Que não carrego jazem docemente,
Como nos lábios se desfazem calmas
As bátegas frias de Mar dormente.
Fiz-me de casco, tâmaras e Palmas,
Capitão de navios, não de gente;
E na fúria do Mar que me quer santo,
À crista das vagas navego e canto.

Só Deus bem alto, qual Vénus e Baco
Cede; que na outra mão da tempestade,
Da espuma caia arroz, ou só tabaco
Que amarre por amor a Humanidade.
Abismos também amo mas abarco
Aqueles que se elevam de verdade;
Meu lar é a Via-Láctea sempre escuro
Porque é outra cintura que procuro.

Assim vou mareando, como as aves
Assim que o Mar desce: o acorde breve
De uma nota, e outra, e outras mais graves,
Acelerando mais e mais o leme
leve, dos meus últimos sonhos suaves.
E à noitinha, numa onda que regresse
É como se eu fizesse amor contigo,
Repetindo um poema repetido.









1092
0


Quem Gosta

Quem Gosta

Seguidores