ROGERIO HENRIQUE CASTRO ROCHA
Busca na poesia uma saída para a cureza do dia a dia, um olhar lírico e sensível às coisas da vida. Nos versos plasma as percepções inauditas das vivências de toda uma vida.
ENQUANTO
Enquanto você passeia, eu escavo relíquias.
Enquanto você dança, eu ouço vozes distantes.
Enquanto você ri, eu grito para o nada.
Enquanto você se agita, eu descanso no solo.
Enquanto você cozinha, eu respiro o pó das horas velhas.
Enquanto você ouve Brahms, eu me retorço em pesadelos.
Enquanto tuas mãos tateiam a porta, eu silencio.
Enquanto tu sobes a escadaria, eu sorvo mais um café.
Enquanto teus olhos marejam, os meus cintilam qual vaga-lumes.
Enquanto te finges de morta, aprecio a tarde deserta.
Enquanto tratas teus casos, eu desço a rua com mil coisas na cabeça.
Enquanto tu tomas sorvete, eu vejo Chaplin mais uma vez.
Agora ouve! Ouve essa música estranha, a tocar vazia,
sem ressonâncias, num vento que vem de tão longe.
É outro tempo agora. É outro fato, outra substância.
Ficamos nós atordoados (parece), atados à errância.
Agora sente! Sente a rapidez dos bytes, nesse tráfego incessante.
A crueza que impera nas luzes foscas, nas frases tênues dos frios painéis.
Sentamos nós acomodados (percebe-se), nas antessalas da desesperança.