Dia mais cinzento

Dia mais cinzento que este,
Não via desde o início da primavera,
Tão piedosamente melancólico,
Assim como Deus quisera;

Corri aos tropeços para a varanda,
Não dando ouvidos à mãe a chamar,
Desta vez não para ver o meu amor,
Fui assistir o céu desabar;

Sinto-me inquieta, um reboliço em mim,
Olho o vizinho, as árvores agitadas no jardim,
Miro as senhoras apressarem o passo,
Apoquentadas, com os ninos no regaço;

Logo, um clarão estranho aqui se apodera,
Sem ver de quê, um último chilrear,
A mãe pisa a madeira velha, fugosamente,
Resmungando o cabelo que não chegou a entrançar;

Ouço começar a chuva de fininho,
O coração errar uma batida desenfreada,
Dou por mim a pensar nesta desgraça:
Como faço para deixar de amar,
Como estou sofregamente apaixonada.

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