Nunca mais seria a mesma
O teu cabelo, ele murmurava,
Embriagado de tamanha luxúria,
Quase torpe, naquele ar tépido,
Ao dar-se preso naquela injúria;
Então, ela, por descuido,
Mirava-lhe os olhos sugados p'la ira,
Segurava-o defronte do seu rosto,
Beijava uma lágrima que lhe caira;
Ele tocava-a com desespero
Como se fosse a última vez,
Beijava-a com fervor obsceno
Mas olhava-a com timidez;
Sem ver de quê, algo mudou,
Ouviu-se dar as badaladas,
Ouviu-se as duas almas desditosas
Serem impiedosamente quebradas;
De repente, num tom brusco,
Move-se o vestido aveludado,
Que marcava as linhas e curvas
Daquele corpo pálido, avantajado;
Lá de fora sentia-se a chuva,
Os raios a fazer jus à tempestade,
Não à que Deus diz ser natural,
Mas àquela que trás de volta a realidade;
Então ela se foi,
Fria, apagada, sem nada lhe dizer,
Deixando um coração despedaçado,
Uma ferida aberta que o faria sofrer;
Bastava um sussurro,
Um tragar de saudade,
Um toque de insanidade,
E nunca mais seria a mesma.