A MULHER DE BRANCO
Assombrados que viviam os moradores do Batalhão com a estória da mulher que virava porca nas noites de lua cheia, contam que, quando as luzes da usina se apagavam, às dez horas da noite, uma visagem, uma assombração, alma penada, coisa do outro mundo, talvez, ficava vagando da estação ferroviária até o pontilhão do Clarindo.
Era de jeito que ninguém mais saía de casa só de medo de dá de frente com aquela visagem. Diziam até que se tratava da besta-fera que, segundo as santas Escrituras, iria correr pelo mundo a fora sem descanso no final dos tempos, que tinha sido solta pelo “dito cujo”, lá das profundezas do inferno, para devorar os cristãos batizados.
Naquele tempo, poucas eram casas da cidade que tinham um televisor COLORADO RQ - símbolo de riqueza, luxo e mordomia. Nosso tio Domingos Padeiro (que Deus já o levara do nosso meio) era um dos poucos homens ricos da cidade que abria as portas do seu bangalô para os desafeiçoados assistirem televisão e, por este motivo, todas as noites costumávamos nos deslocar de nosso humilde lar na Rua São Benedito até a residência dele na rua São José.
Enquanto os adultos conversavam dentro da casa, lá fora, na rua, sob a lua cheia, brincávamos de roda, ciranda, cirandinha, balacondê, de pera-uva-maçã-salada mista, de boca-de forno e demavé de si e nem percebemos que as luzes da usina do Seu Cleofas haviam se apagado.
De dentro da casa uma voz materna nos avisava de que já era chegada a hora de irmos embora. Descemos, então, pela Rua São José. Os grânulos de areia pareciam brilhantes refletindo a luz do plenilúnio devasso e sedutor que se debruçava sob o céu límpido e transparente numa orgia inefável e concupiscente. As casas dormiam embaladas por uma canção etérea que a brisa tênue da noite cantarolava sob a regência do luar bêbedo e sonolento se espreguiçando nas nuvens.
Todo esse cenário de encanto e magia foi, aos poucos, dando lugar a uma escuridão profunda e tenebrosa dos mangueirais que cobriam a residência daquela figura esquálida e nojenta do lobisomem que havia corrido atrás do Rocha.
Finalmente, chegamos aos trilhos já com o coração saindo pela boca de tanto medo e para piorar ainda mais aquele quadro de terror, meu jesuscristinho, a mulher de branco, a alma penada, a coisa do outro mundo, a besta-fera. A mensageira do maldito descia pelos trilhos na direção do Clarindo.
Por um bom tempo, ficamos parados e sem movimentos. Fizemos, várias vezes, o pelo sinal da santa cruz naquela devoção piegas e ingênua que costuma se manifestar sempre nas horas de angústia e medo, acompanhada dos rogos e das invocações ao nosso anjo da guarda, implorando que ele nos protegesse das garras aduncas e afiadas da besta do Apocalipse.
De repente, Jorginho, menino traquinas (que se acha na glória do Pai), sem titubear, decidiu seguir o fantasma da mulher de branco.
Acompanhei-o. À medida que íamos nos aproximando do pontilhão, ouvíamos arfados e gemidos que não eram de dor, mas de prazer. Devagarzinho, fomos encostando e em meio à luz fosca e sem brilho do luar macilento, alcoviteiro e conivente que cochilava entre as nuvens, pudemos avistar dois corpos que, avidamente, se lambuzavam feitos animais famintos e vorazes, rolando no cimento frio e cúpido do pontilhão.
Diante daquela cena sobrenatural, Jorginho não hesitou. Jogou o facho de luz da lanterna naquela coisa do outro mundo e que, ali, debaixo do pontilhão do Clarindo, se enroscava pelo chão que nem dois bichos no cio e, para a nossa surpresa (valha-nos Deus!), saltou, na nossa frente, uma muleca fogosa, aparentando de 13 para 14 anos de idade, nua como tinha vindo ao mundo, fungando que nem um bicho enfezado e deixando à amostra os grossos lábios de farta vulva que começava a se cobrir com uma espessa babugem de pelos e de onde dava pra ver escorrendo, entre as pernas, um líquido esbranquiçado e viscoso que se assemelhava a leite derramado.
Após aquela noite, a mulher de branco nunca mais foi vista e houve até quem dissesse que foram graças às missas encomendadas e as orações feitas em intenção daquela pobre alma penada, condenada a vagar pelo mundo em remissão dos pecados cometidos em vida.
Anos mais tarde, todo mundo ficou sabendo que a mulher de branco era uma muleca sapeca, moradora do bairro, vizinha nossa, morena, magra, voz díssona e estrídula, cheia de aleivosia e sensualidade e que costumava se encontrar todas as noites com um velho e conhecido magarefe dos Altos de João de Paiva e que tinha a fama de ser mulherengo e a pecha de desencaminhador de donzelas desvalidas e que costumava atacar suas presas bem naquela horinha em que toda a sensibilidade e reinações da carne surgem à flor da pele, deixando as fêmeas inseguras, desprotegidas e sem defesa ao ataque e às investidas do macho sedutor.
Era de jeito que ninguém mais saía de casa só de medo de dá de frente com aquela visagem. Diziam até que se tratava da besta-fera que, segundo as santas Escrituras, iria correr pelo mundo a fora sem descanso no final dos tempos, que tinha sido solta pelo “dito cujo”, lá das profundezas do inferno, para devorar os cristãos batizados.
Naquele tempo, poucas eram casas da cidade que tinham um televisor COLORADO RQ - símbolo de riqueza, luxo e mordomia. Nosso tio Domingos Padeiro (que Deus já o levara do nosso meio) era um dos poucos homens ricos da cidade que abria as portas do seu bangalô para os desafeiçoados assistirem televisão e, por este motivo, todas as noites costumávamos nos deslocar de nosso humilde lar na Rua São Benedito até a residência dele na rua São José.
Enquanto os adultos conversavam dentro da casa, lá fora, na rua, sob a lua cheia, brincávamos de roda, ciranda, cirandinha, balacondê, de pera-uva-maçã-salada mista, de boca-de forno e demavé de si e nem percebemos que as luzes da usina do Seu Cleofas haviam se apagado.
De dentro da casa uma voz materna nos avisava de que já era chegada a hora de irmos embora. Descemos, então, pela Rua São José. Os grânulos de areia pareciam brilhantes refletindo a luz do plenilúnio devasso e sedutor que se debruçava sob o céu límpido e transparente numa orgia inefável e concupiscente. As casas dormiam embaladas por uma canção etérea que a brisa tênue da noite cantarolava sob a regência do luar bêbedo e sonolento se espreguiçando nas nuvens.
Todo esse cenário de encanto e magia foi, aos poucos, dando lugar a uma escuridão profunda e tenebrosa dos mangueirais que cobriam a residência daquela figura esquálida e nojenta do lobisomem que havia corrido atrás do Rocha.
Finalmente, chegamos aos trilhos já com o coração saindo pela boca de tanto medo e para piorar ainda mais aquele quadro de terror, meu jesuscristinho, a mulher de branco, a alma penada, a coisa do outro mundo, a besta-fera. A mensageira do maldito descia pelos trilhos na direção do Clarindo.
Por um bom tempo, ficamos parados e sem movimentos. Fizemos, várias vezes, o pelo sinal da santa cruz naquela devoção piegas e ingênua que costuma se manifestar sempre nas horas de angústia e medo, acompanhada dos rogos e das invocações ao nosso anjo da guarda, implorando que ele nos protegesse das garras aduncas e afiadas da besta do Apocalipse.
De repente, Jorginho, menino traquinas (que se acha na glória do Pai), sem titubear, decidiu seguir o fantasma da mulher de branco.
Acompanhei-o. À medida que íamos nos aproximando do pontilhão, ouvíamos arfados e gemidos que não eram de dor, mas de prazer. Devagarzinho, fomos encostando e em meio à luz fosca e sem brilho do luar macilento, alcoviteiro e conivente que cochilava entre as nuvens, pudemos avistar dois corpos que, avidamente, se lambuzavam feitos animais famintos e vorazes, rolando no cimento frio e cúpido do pontilhão.
Diante daquela cena sobrenatural, Jorginho não hesitou. Jogou o facho de luz da lanterna naquela coisa do outro mundo e que, ali, debaixo do pontilhão do Clarindo, se enroscava pelo chão que nem dois bichos no cio e, para a nossa surpresa (valha-nos Deus!), saltou, na nossa frente, uma muleca fogosa, aparentando de 13 para 14 anos de idade, nua como tinha vindo ao mundo, fungando que nem um bicho enfezado e deixando à amostra os grossos lábios de farta vulva que começava a se cobrir com uma espessa babugem de pelos e de onde dava pra ver escorrendo, entre as pernas, um líquido esbranquiçado e viscoso que se assemelhava a leite derramado.
Após aquela noite, a mulher de branco nunca mais foi vista e houve até quem dissesse que foram graças às missas encomendadas e as orações feitas em intenção daquela pobre alma penada, condenada a vagar pelo mundo em remissão dos pecados cometidos em vida.
Anos mais tarde, todo mundo ficou sabendo que a mulher de branco era uma muleca sapeca, moradora do bairro, vizinha nossa, morena, magra, voz díssona e estrídula, cheia de aleivosia e sensualidade e que costumava se encontrar todas as noites com um velho e conhecido magarefe dos Altos de João de Paiva e que tinha a fama de ser mulherengo e a pecha de desencaminhador de donzelas desvalidas e que costumava atacar suas presas bem naquela horinha em que toda a sensibilidade e reinações da carne surgem à flor da pele, deixando as fêmeas inseguras, desprotegidas e sem defesa ao ataque e às investidas do macho sedutor.
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02/maio/2019