Pedro Paiva

Pedro Paiva

1962-06-29 Altos - Pi
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ANJO DECADENTE

Sob a ponte de tábua
a correnteza d’água
quebrando-se nas pedras
em notas suaves, breves
de doces melodias!

Na abóbada celeste...
Meu Deus, quanta harmonia!
Um arfar d’asas doiradas,
de anjo que se perdeu,
rompe o silêncio do infinito.

Em terra firme, o anjinho foi mirar-se
no espelho móvel do rio.
Ficou tão surpreso ao vê-se n’água refletido
que num desmaio adormeceu!
Mas uma canção de longe
foi do sono profundo acordando
aquele pobre anjinho enteu!

Os dias foram-se passando
e o anjinho, que levava a vida sempre cantando,
nem sequer poderia supor
que noutra imagem refletida
lhe sangrasse a ferida:
a férula chaga do amor!
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