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Gente entre gente, que não se pense que se sente o que outro sente, nem que se pressente para além do presente.

1965-05-01 Vitória, Porto
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Desaparecido

Uma mulher exótica manipula um piano belo, 
A minha lateralidade, os 24 Préludes de Chopin pela Yuja Yang
A desonestidade de se fazer contra a natureza do ser
Paradoxal qualidade que nesta idade 
Me caracteriza, desvirtúa, banaliza 
Ambiente abafado ausente de briza
Vento de liberdade cativo pela cobardia
Que controla todo este día, um Loop 
De longínquos antães, tons oblíquos 
De quem admira quem o olha de frente
Num tempo apartado deste lugar isolado
Deste recorrente de olhar apenas rente
Tangente ao chão onde, calmo, repousa
 
Uma criança grita lá dentro, ignorada
Uma ambulância cruza a rua apressada 
Cruzada de pés abusados por passos
Pés com chinelo e outros a solo, 
Como a vaziês que senta no meu colo
Carente de tudo, colmatando lacunas
Sonhando com mulheres das dunas
E acordes alheios, acordado para olhares feios
Que o encaram quando passa, 
Forçando-se a ver meios cheios
Os vasos depletos para sempre destacados
Para longe de quaisquer companhias ou lugares seletos
Ocupando a vista, decadentes tetos, pisos empoeirados
Pensamentos incompreensíveis 
Tempos de espera sem se acender uma vela
Antes uma aceitação de que a vida nem se nota
Se se atingir a abstração da potente indiferença 
A toda e qualquer ideia ou presença 
Se se rir na cara de qualquer pertença
Acordar no aguardo do desvario, 
Acolher o frio como um amigo do espírito 
Endurecer, esquecer numa memória feita de maus momentos 
Que os bons escorreram no ralo da pia
Decadente, entupida com anda a vadia 
Que sou, vadia falhada, na cave encalhada. 
 
Inundados de citações inspiradoras, publicidade voraz, receio não ser capaz. 
Desde rapaz rodeado de opções assustadoras
Empático com as dificuldades alheias 
Estou hoje surdo de orelhas cheias 
E disfarço a atenção que não presto
E consigo quase sempre esquecer do resto
Da certeza de que não empresto utilidade
Do muralha que me separa da comunidade
Da certeza de não ligar para a verdade
Ao garatujar este sem sentido repetido
Revivido de desilusão como pano de fundo
Opaca cortina que me separa do mundo. 
 
Vivo rodeado de beleza, música, ideias
Nunca as minhas, sempre as alheias. 
E a crueldade morou, e o ser aceitou
O saber que saber é o pior de tudo. 
 
 
 
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