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Gente entre gente, que não se pense que se sente o que outro sente, nem que se pressente para além do presente.

1965-05-01 Vitória, Porto
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Falta de Tróia e das suas torres


Falta de Tróia e das suas torres, 
Onde estão as suas fortes mulheres, 
Que ontem sonharam comigo nos braços, 
E acordaram enlaçadas aos filhos e maridos com olhos lassos? 

Onde pairam os pardais que carregam minha alma, 
Quando eu sonho tão perto da eterna calma, 
Os restolhar do seu bando, os seus mil olhos. 

Viajo e vou ver os mortos que amei nos seus poemas, 
As telas que me envolvem nos seus temas, 
Os amantes falecidos nos tempos perdidos, 
Todos vivos na morte que me espera lá sentada a rir. 

Nado no naufrágio do Indianápolis e grita o meu colega do lado, 
O braço arrancado pelo grande branco de raspão. 
A agua quente mexe com o medo feito ansia de nadar, 
Nadar e afundar, reassomar entre os perdidos até o tempo acabar. 

Sento-me na minha cadeira de rodas no couraçado, 
Os três a posar para a fotografia, o Stalin mais sério, 
E penso nestes mandatos que cumpri, e nos livros que perdi, 
Não sei a razão da guerra, só o palco me diz os discursos que proferi. 

Estive tão perto do polo Sul, a tempestade uiva ao meu redor, 
Penso como vão encontrar a base abandonada, 
E se os nossos fantasmas cantarão no vento gelado, 
No futuro de uma Antártida habitada. 

Falhei o lago Vitória por que lutei por erros diversos.  
As nascentes tão almejadas e os mortos alinhados, 
Não sei se porque o meu coronel não obedece à razão 
Que se desvanece nos assomos desta emoção. 

Olho a dançarina de preto e ouro no pátio sobre a planície do rio, 
Queria roubar a coreografia dos seus decididos passos, 
A noite cai e as borboletas de ouro voam à nossa volta, 
Sinto uma desatinada alegria, não sei se já estou morta. 

Tanta porta onde não bati neste alto do Vidigal, 
Estou na varanda da casa a olhar para o mar que me diz segredos, 
Diz que eu não sou nada além da alegria de o ver, 
E que ter é sempre perder, como o esqueleto da baleia morta, 
Perdeu a direção, morreu nos meus braços deitada na praia. 

Como um Ulisses encalhado na ilha do caminho perdido, 
Uma Eloisa ajoelhada na certeza de um Abelardo já ido. 
Um mendigo invejado pelo poeta só por não ser como ele.

Sou um ao lado de um mundo tangente
Cego face à multiplicidade tão candente
Que me ensurdece e isola em bolhas de sabão. 

Sem direção sem saber dizer que não, Oxalá, 
Deixa lá, aceita e deita sobre os vidros, estilhaços,
Longos lamentos baços por inalcançáveis abraços.








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