Amanda Silva

Amanda Silva

"Seus ares de demônio depositam-se na face. Tão logo é o desastre: a profusão da tempestade e do pouco que se sabe ou se entende por mulher."

1990-07-22 Parnaíba, Piauí
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Vida de Inseto

A cerveja que tirei da geladeira
não parece ter me caído bem
da minha rede armada no terraço
percebo um caminho de insetos
levanto
vejo mais de perto
e só me vem um pensamento
como deve ser doido ser formiga!
cruzar esse pedacinho de parede
é como conquistar um mundo inteiro
uma gota de chuva
o quadro na parede
ou os meus gatos
assumem a forma de temporais,
grandes construções
e terríveis perseguidores
virando vilões de uma saga heroica
cada migalha deixada por alguém
é agora maravilhoso banquete
e o melhor de tudo
na colônia todos são iguais
tem a mesma importância
trabalham como grupo
unido, coeso e homogêneo
acho que deve ser foda esse trabalho
acordar
servir a rainha
carregar comida
proteger o formigueiro
acordar
servir a rainha...
um ciclo eterno
enfadonho
desgastante
e ainda assim invisível
volto pra realidade
meio bêbada é verdade
rindo pra parede
porém orgulhosa e
infinitamente satisfeita
por ser gente
que não se contenta
com poucos espaços
ou migalhas
com o trabalho pra rainha
ou a mentira que é a cortesia
dou de costas
entro em casa e
sigo pra vida real
imaginando como deve ser libertador
pro tanto de gente
que está nesse mundo
festejando um faz de conta
fazendo às vezes de
formiga.

 

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