Alguns Poemas

Meu fôlego

Esta é minha canção: canção poderosa.
Unaija-unaija.
Desde o outono deito-me aqui,
desamparado e doente,
como se fosse filho de mim mesmo.
Em angústia, desejaria que minha mulher
tivesse outra cabana,
outro homem por refúgio,
firme e seguro como o gelo do inverno.
Unaija-unaija.
E desejaria que minha mulher
encontrasse protetor melhor,
agora que me faltam as forças
para erguer-me da cama.
Unaija-unaija.
Você conhece a si mesmo?
Como você entende pouco de si!
Estirado e débil sobre meu banco,
minha única força está em minha memória.
Unaija-unaija.
Caça! Grande caça,
correndo adiante de mim,
permita-me reviver aquilo.
Deixe-me esquecer minha fraqueza
remembrando o passado.
Unaija-unaija.
Eu trago à memória aquele grande branco,
o urso polar,
aproximando-se com patas erguidas,
seu focinho na neve -
convencido, enquanto me atacava,
que entre nós dois
ele era o único macho.
Unaija-unaija.
Lançou-me ao solo repetidamente:
mas exausto por fim,
sentou-se sobre um banco de gelo,
e lá descansaria
insciente de que eu o terminaria.
Ele pensava ser o único macho em redor.
Mas eu estava ali,
Unaija-unaija.
Nem hei de esquecer o grande oleoso,
o leão-marinho que matei
em uma placa de gelo antes da aurora,
enquanto meus amigos em casa
deitavam-se como com os mortos,
frágeis com a fome,
famintos na má sorte.
Apressei-me para casa,
carregado de carne e óleo,
como se estivesse correndo sobre o gelo
em busca de uma fenda para respirar.
Era porém leão-marinho experiente
que me cheirara imediatamente -
mas antes que pudesse fugir
minha lança enterrava-se
em sua garganta.
É como foi.
Agora deito-me em meu banco,
doente demais para sequer
conseguir óleo para a lâmpada de minha mulher.
O tempo, o tempo mal parece passar,
mesmo que aurora siga aurora,
e a primavera aproxime-se da vila.
Unaija-unaija.
Quanto tempo mais devo deitar-me aqui?
Quanto tempo? Quanto tempo ela terá
que implorar por óleo para sua lâmpada,
peles de rena para seu corpo,
e carne para sua comida?
Eu, desastre débil:
ela, mulher indefesa.
Unaija-unaija.
Você conhece a si mesmo?
Como você entende pouco de si!
Aurora segue aurora,
e a primavera aproxima-se da vila.
Unaija-unaija.
.
.
.
Orpingalik foi um poeta inuíte ativo nas primeiras décadas do século XX, que serviu comoangakkuq (figura que conjuga a liderança intelectual e espiritual entre os inuítes, algo como oxamã em outras culturas) para sua comunidade Netsilingmiut, do norte do Canadá. Durante suas expedições pelo ártico, o antropólogo groenlandês Knud Rasmussen (1879 – 1933) transcreveria muitas das canções e poemas de Orpingalik, que descreveria da seguinte maneira seu trabalho poético:
 
"Canções são pensamentos, cantados com o fôlego e a respiração quando as pessoas são movidas por grandes forças e a fala comum não basta. Os humanos são movidos como placas de gelo que navegam aqui e acolá na corrente. Seus pensamentos são dirigidos por uma força fluente quando ele sente alegria, quando ele sente medo, quando ele sente a tristeza. Pensamentos podem jorrar sobre ele como uma enchente, fazendo sua respiração vir em esgares e seu coração palpitar. Algo como uma queda de temperatura mantê-lo-á em gelo. E então ocorrerá que nós, que nos pensamos pequenos, nos sentiremos ainda menores. E temeremos usar palavras. Mas então acontecerá que as palavras de que precisamos virão por si mesmas. Quando as palavras que queremos usar jorram por si mesmas - aí nós temos uma nova canção." --- Orpingalik, em depoimento a Knud Rasmussen.
 
 Esta declaração de princípios, que se irmana às mais sofisticadas poéticas ocidentais, já foi comparada a certas declarações de William Wordsworth (1770 – 1850), por exemplo, e por Jerome Rothenberg em sua seminal antologiaTechnicians of the Sacred (1968) a poéticas norte-americanas como a doProjective Verse, de Charles Olson (1910 - 1970), com sua ênfase na composição poética baseada na respiração do poeta. Pessoalmente, ao ler esta declaração de poética de Orpingalik, penso imediatamente em um poeta do pós-guerra como Henri Chopin (1922 - 2008), que reduziria o campo de composição poética estritamente à sua respiração. Na língua inuíte Netsilik, de Orpingalik, "respiração" e "poesia" têm o mesmo nome:anerca, o que pode ser encontrado em outras etimologias. Como bem nos lembra Rothenberg, nas terras dos povos esquimós, devido à temperatura a respiração é algo visível, em vapor, e na língua de Orpingalik a palavra "vivo" ou "vivente" pode ser traduzida como "aquele que o vapor cerca".
 
 Entre os poemas inuítes que Rasmussen recolheria em suas expedições, um dos meus favoritos é um certo "Poem against death", que diz tão-somente: "I watched the white dogs of the dawn". Lido em tradução, não sabemos de que maneira foi recriado, mas sua forte carga aliterativa demonstra sua origem oral.  
 
 A mim parece uma espécie de desabafo e desafio, como quem diz "acordei de novo, um dia a mais!". Parece-me belíssimo. Dos poemas-canções mais divulgados de Orpingalik, de quem infelizmente não há gravações de som, apenas transcrições, tentei a seguinte paráfrase a partir de sua tradução para o inglês. Como qualquer grande poeta, Orpingalik incluía composições próprias em meio a textos recebidos pela sua tradição, em expressão pessoal mesclada à entoação de palavras mágicas, que recebemos como poesia sonora.
 
 
--- Ricardo Domeneck
 
 
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