Pedro Casariego Córdoba

Pedro Casariego Córdoba

poeta espanhol

Madrid
1993-01-08
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Alguns Poemas

16de julho

mãe
arranque a partir de hoje a coroa
de rainha da insônia
porque é uma coroa falsa
nem uma única pedra preciosa
e mesmo assim
quando não pode dormir
você se converte na enfermeira do céu
médico de cabeceira dos cometas
nuvens sensíveis
estrelas que têm febre
como se compadece o sonho
aquele que congela suas mãos
suas mãos fundas de beleza
de rastelo
de tesouras de duas luas
dois jardins suas mãos quando regam
dez flores seus dedos quando plantam
algo um bulbo?
que parece uma toupeira
tão fechada em si
como uma noz
e que
com certeza
se abrirá amanhã
para soltar um pássaro de pétalas
o pássaro há de tossir um pouco
pedirá um cigarro
e dirá
que lhe observa quando você não pode dormir
e que
bem no momento em que consegue domir
aparece no calor do céu de verão
uma estrela nova e fraquíssima
talvez por isso lhe custe tanto dormir
iluminar uma estrela ferida
fazer curativos na perna quebrada de uma estrela acrobata demais
não está ao alcance dos que dormem como pedras
dos que se esquecem das pernas alheias
as penas alheias
as próprias penas
mãe
creio em sua coragem
creio
:
16DE JULIO // madre / quítate desde hoy la corona / de reina delinsomnio / porque es una corona falsa / ni una sola piedra preciosa /y sin embargo / cuando no puedes dormirte / te conviertes en laenfermera del cielo / médico de cabecera de los cometas / nubesdelicadas / estrellas que tienen fiebre // qué compasivo es el sueño/ el que congela tus manos / tus manos hondas de belleza / derastrillo / de tijeras de dos lunas // dos jardines tus manos cuandoriegan / diez flores tus dedos cuando plantam / algo ¿un bulbo? /que parece un topo / tan encerrado en sí mismo / como una nuez / yque / seguro / mañana se abrirá / para soltar un pájaro de pétalos/ el pájaro toserá un poco / te pedirá un cigarrillo / y te dirá/ que te mira cuando no puedes dormir / y que / justo cuandoconsigues dormirte / aparece entre el calor del cielo de verano / unaestrella nueva y debilísima // quizá por eso te cueste tantodormirte / alumbrar una estrella herida / vendar la pierna rota deuna estrella demasiado saltimbanqui / no está al alcance de los queduermen a pierna suelta / de los que olvidan las piernas de los otros/ las penas de los otros / sus propias penas / madre / creo en tucoraje / creo
.
.
.

Esta solidão

esta solidão é filha de uma altura equivocada
eu tenho o vício dos céus
sou o único proprietário
do ar ossudo e dos pássaros fáceis
os ossos azuis do céu
formam um espaço grande e delicado
e se partem em tormenta
e descem em água
para acabar em lápide sem nome
o vermelho das minhas mãos é um mistério
porque brota de rios brancos que se inclinam como lápides
através da tela metálica
cabisbaixa a erva daninha rouba o início do outono
no outono os ladrões de céu
carregam silêncio no bico e tumba nas asas
agarro-me à tela metálica
e não tenho dinheiro
as mulheres redondas sempre têm dinheiro
mas quando olham para o alto a celebrar uma cama nova
alguém obstrui o céu com uma navalha de ar
agarro-me à tela metálica
e não tenho mulher redonda
eu tenho o vício do céu porque tenho medo
porque sou covarde
mulher inteira nada tenho a oferecer desamarrote minha tormenta
AJANTA É ÀS 6.
EUSOU O GARÇOM.
:
ESTASOLEDAD / esta soledad es hija de una altura equivocada / yo tengo elvicio del cielo / soy el único propietario / del aire huesudo y delos pájaros fáciles // los huesos azules del cielo / forman unespacio largo y delgado / y se quiebran en tormenta / y bajan en agua/ para acabar en lápida sin nombre // el rojo de mis manos es unmisterio / porque brota de ríos blancos que se inclinan como lápidas// a través de la tela metálica / cabizbaja la mala hierba roba elprincipio del otoño // en otoño los ladrones del cielo / llevansilencio en el pico y tumba en las alas // me agarro a la telametálica / y no tengo dinero / las mujeres redondas siempre tienendinero / pero cuando miran hacia lo alto para celebrar una cama nueva/ alguien impide el cielo con una navaja de aire // me agarro a latela metálica / y no tengo mujer redonda // yo tengo el vicio delcielo porque tengo miedo / porque soy cobarde // mujer entera nopuedo darte nada plancha mi tormenta / LA CENA ES A LAS 6. / YO SOYEL CAMARERO.
Pedro Casariego Córdoba, também conhecido na Espanha como Pe Cas Cor, nasceu em Madri em 1955. Iniciou seu trabalho poético por volta de 1974, escrevendo em geral poemas-em-série, como pequenos roteiros, em que personagens estranhas, num ambiente quaselynchiano, convivem com personagens históricas, como nos livrosLa canción de Van Horne,El hidroavión de K.,La risa de Dios,Maquillaje. Letanía de pómulos y pánicos,La voz de Mallick (pelo qual recebeu o prêmio Juan Ramón Jiménez, em 1989) e Dra.  Um exemplo, que abre o poema-em-sérieEl Hidroavión de K., escrito em 1978:
 
El atractivo
tejido vitamínico
que constituye el alma
de la mujer de Laos.
La torpe avitaminosis
que corroe a Kierkegaard.
La mujer de Laos
se hace un ovillo
un ovillo de lana natural.
Kierkegaard
tejerá con ella
un tapiz de color azul.
Galán de bisutería
nuestro hombre se adelanta.
 
(inEl Hidroavión de K., 1978)
 
 O poeta publicou pouco em vida. A maioria desses poemas-em-série seria reunida no volumePoemas Encadenados (1977-1987), publicado na Espanha pela editora Seix Barral, em 2003, dez anos após a morte do poeta. Como o poeta escreveu no poema de abertura deLa voz de Mallick (1981):
 
Wataksi
escúchame.
He callado y he callado más aún:
mi silencio ha sido más largo
que el camino de la serpiente
más profundo
                         que el dolor de la hiena.
 
(La voz de Mallick, 1981)
 
 
O ano de 1987, no qual escreve um único poema, marca seu abandono da poesia, passando a dedicar-se à pintura e ao desenho, até o ano de 1993, quando decide deitar-se na frente de um trem. O poeta se assemelha em sua estranheza e posição marginal, na poesia espanhola contemporânea, a Leopoldo María Panero (n. 1948), o outro "esquisito" da década de 70 espanhola. Cometeu suicídio no dia 6 de janeiro de 1993.
 
--- Ricardo Domeneck
 
 
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