Nega-Entropia

O
cigarro em arabescos ascendentes
desfaz-se lentamente em anéis
e entre os meus dedos, pouco a pouco
se exaure ardendo sem parar.

Parada fico a olhar o inevitável!

Há impotências no meu gesto,
no vago do olhar que espera,
e o gosto ébrio de um Nero,
espectador que comanda e baba gozos festivos
diante dos arabescos do que arde sem remédio.

E até que nada sobre,
destinado a arder está
um cigarro entre os meus dedos
que em arabescos efémeros se esfuma e dilui no ar.

Ardem invisivelmente iguais
os ténues fios da vida,
fogo da consumação inscrito nas nossas fibras,
nas microscópicas células onde se aloja implacável
o fogo entropico de um qualquer fim.

Anéis de fumo diluindo-se no ar,
que ora vejo….ora deixo de ver,
e a consumação nos veios da vida, implícita,
não me trazem angustias
nem em líquidos amargos de inúteis existências
me deixam embebida.

Os arabescos… o fumo… o cigarro que ardeu
lembram-me a vida e seus compassos
presa entre os dedos de Deus
que dizem brincar aos dados
E nós corremos no chão onde Deus joga se quer
e decide do impulso que nos lança e suspende
entre os dois grandes instantes:
a Vida que nos é dada,
a Vida que nos mantém,
a Morte que não queremos,
e essa outra que sempre vem.
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