José Albano
José Albano foi um poeta brasileiro.
1882-04-12 Fortaleza CE
1923-07-11 Montauban, França
18062
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Comédia Angélica
A cena se passa em Lourdes.
Coro de pastoras
Violeta suave,
Santa MARIA,
O teu pranto nos lave
De noite e dia.
Tu que em Belém nos deste
A graça suma,
Açucena celeste,
Tu nos perfuma.
Rosa d'amor primeva,
Casta e pudica,
Tu nos levanta, enleva
E glorifica.
E, até que enfim desponte
A alta ventura,
Corra a água desta fonte
Perene e pura.
Coro de fiéis
Abril, de violetas coroado,
Pinta de cores mil o verde prado
E em ledos bosques e vergéis risonhos
Voam amores, ilusões e sonhos.
Desliza o rio, duma e doutra margem
Flores fragrantes fresco aroma espargem
E surgem dentre lírios amorosos
Doces desejos e mais doces gozos.
É já passado o inverno duro e ingrato,
A primavera ostenta rico ornato
E já lá vêm chegando as três donzelas
Sábias, prudentes, ínclitas e belas
Que inspiraram o engenho peregrino
Do Angélico Doutor Tomás d'Aquino.
Eis a Fé, a Esperança e a Caridade,
Trazendo co'o prazer que nos invade,
A santa cruz, luzindo eternamente,
A âncora forte e o coração ardente.
Fé
Minhas irmãs caríssimas e amáveis,
Dizei-me em que lugar remoto andáveis,
Pois quase nunca a vós me vejo unida,
Almas salvando para a eterna vida.
Porém aqui, nesta sagrada gruta,
Do mal nos livra a Virgem impoluta
E não tememos nunca força ou manha,
Quando a graça de Deus nos acompanha
E o resplendor da estrela matutina
O caminho do céu nos ilumina.
Esperança
Às vezes, Fé, contigo também ando,
Pois por todo o universo vou voando,
Porém por que tão raras vezes vejo
Da Caridade o rosto benfazejo?
Caridade
Não faltam os que creiam e que esperem,
Mas, ó tristeza, amar bem poucos querem.
E ai dos que deixam a inocência casta,
Todo o prazer do mundo não lhes basta.
(...)
Publicado no livro Comédia Angélica (1918).
In: ALBANO, José. Rimas: poesia reunida e prefaciada por Manuel Bandeira. Pref. Bernardo de Mendonça. 3.ed. acrescida de perfis biográficos, estudos críticos e bibliografia. Rio de Janeiro: Graphia, 1993. p.150-152. (Série Revisões, 3
Coro de pastoras
Violeta suave,
Santa MARIA,
O teu pranto nos lave
De noite e dia.
Tu que em Belém nos deste
A graça suma,
Açucena celeste,
Tu nos perfuma.
Rosa d'amor primeva,
Casta e pudica,
Tu nos levanta, enleva
E glorifica.
E, até que enfim desponte
A alta ventura,
Corra a água desta fonte
Perene e pura.
Coro de fiéis
Abril, de violetas coroado,
Pinta de cores mil o verde prado
E em ledos bosques e vergéis risonhos
Voam amores, ilusões e sonhos.
Desliza o rio, duma e doutra margem
Flores fragrantes fresco aroma espargem
E surgem dentre lírios amorosos
Doces desejos e mais doces gozos.
É já passado o inverno duro e ingrato,
A primavera ostenta rico ornato
E já lá vêm chegando as três donzelas
Sábias, prudentes, ínclitas e belas
Que inspiraram o engenho peregrino
Do Angélico Doutor Tomás d'Aquino.
Eis a Fé, a Esperança e a Caridade,
Trazendo co'o prazer que nos invade,
A santa cruz, luzindo eternamente,
A âncora forte e o coração ardente.
Fé
Minhas irmãs caríssimas e amáveis,
Dizei-me em que lugar remoto andáveis,
Pois quase nunca a vós me vejo unida,
Almas salvando para a eterna vida.
Porém aqui, nesta sagrada gruta,
Do mal nos livra a Virgem impoluta
E não tememos nunca força ou manha,
Quando a graça de Deus nos acompanha
E o resplendor da estrela matutina
O caminho do céu nos ilumina.
Esperança
Às vezes, Fé, contigo também ando,
Pois por todo o universo vou voando,
Porém por que tão raras vezes vejo
Da Caridade o rosto benfazejo?
Caridade
Não faltam os que creiam e que esperem,
Mas, ó tristeza, amar bem poucos querem.
E ai dos que deixam a inocência casta,
Todo o prazer do mundo não lhes basta.
(...)
Publicado no livro Comédia Angélica (1918).
In: ALBANO, José. Rimas: poesia reunida e prefaciada por Manuel Bandeira. Pref. Bernardo de Mendonça. 3.ed. acrescida de perfis biográficos, estudos críticos e bibliografia. Rio de Janeiro: Graphia, 1993. p.150-152. (Série Revisões, 3
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