Carlos Felipe Moisés
Carlos Felipe Moisés, foi um poeta, tradutor, crítico literário, autor de livros infantojuvenis e professor universitário brasileiro.
São Paulo SP
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Mário de Andrade em San Francisco
para Roberto Piva & Cláudio Willer
Dez horas da noite.
Percorro os meandros do Chinatown em San Francisco
e entre becos de névoa e olhares aflitos
é a ti que procuro,
São Paulo, comoção da minha vida,
na voz de Mário,
teu poeta
subindo e descendo as ladeiras da angústia
de uma cidade que anseia pelo mar.
Dez horas da noite.
Meu pés,
que já pisaram as ruínas de Yucatán
e a Medina de Marraquech
o cais de Amsterdã
e o deserto de Alcácer-Quebir,
chegam cansados à Union Square no coração de San Francisco
e este chão morno coberto de pombos me acolhe
como se eu pisasse a Rua Lopes Chaves em noite de crimes.
Dez horas da noite.
A culpa do insofrido
onde está?
Ali, Mário, põe a máscara!
O Rei de Tule jogou a taça ao mar,
vendaval a levou — e hoje,
troféu cravado na torre mais alta da Golden Gate
banhada em luar
ela anseia pelo Oriente onde, dizem, o sol reside.
Dez horas da noite.
Vem, Mário, vou mostrar-te San Francisco,
cidade esculpida em bruma a oriente do Oriente onde a
Primavera existe e se ergue do mar todo ano ofertando
presságios e desassossego,
ladeira abaixo
ladeira acima.
Aqui os corações são arrastados pelos bondes sapateando nos
trilhos como o nosso dlem-dlem Santana! ei-ô! rumo à
Voluntários da Pátria ou às madrugadas arrepiadas de
frio do Largo de São Bento.
(...)
In: MOISÉS, Carlos Felipe. Subsolo. São Paulo: Massao Ohno, 1989
Dez horas da noite.
Percorro os meandros do Chinatown em San Francisco
e entre becos de névoa e olhares aflitos
é a ti que procuro,
São Paulo, comoção da minha vida,
na voz de Mário,
teu poeta
subindo e descendo as ladeiras da angústia
de uma cidade que anseia pelo mar.
Dez horas da noite.
Meu pés,
que já pisaram as ruínas de Yucatán
e a Medina de Marraquech
o cais de Amsterdã
e o deserto de Alcácer-Quebir,
chegam cansados à Union Square no coração de San Francisco
e este chão morno coberto de pombos me acolhe
como se eu pisasse a Rua Lopes Chaves em noite de crimes.
Dez horas da noite.
A culpa do insofrido
onde está?
Ali, Mário, põe a máscara!
O Rei de Tule jogou a taça ao mar,
vendaval a levou — e hoje,
troféu cravado na torre mais alta da Golden Gate
banhada em luar
ela anseia pelo Oriente onde, dizem, o sol reside.
Dez horas da noite.
Vem, Mário, vou mostrar-te San Francisco,
cidade esculpida em bruma a oriente do Oriente onde a
Primavera existe e se ergue do mar todo ano ofertando
presságios e desassossego,
ladeira abaixo
ladeira acima.
Aqui os corações são arrastados pelos bondes sapateando nos
trilhos como o nosso dlem-dlem Santana! ei-ô! rumo à
Voluntários da Pátria ou às madrugadas arrepiadas de
frio do Largo de São Bento.
(...)
In: MOISÉS, Carlos Felipe. Subsolo. São Paulo: Massao Ohno, 1989
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