Carlos Vogt
Carlos Alberto Vogt é um linguista e poeta brasileiro. Graduou-se em Letras pela Universidade de São Paulo.
1943-02-06 Sales de Oliveira, São Paulo, Brasil
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Presenças de Vinicius
De tudo à tua ausência, por seres um e múltiplo serei
atento
antes, e com tal zelo, e sempre e tanto
que, se te espedaças em vão contra o infinito,
recolhem-se os fragmentos no teu canto
que sempre se inicia e é sempre último.
Por seres, pois, quem me foste um dia,
sombra e luz, azul e branco, carnaval e cinzas,
sugestão de amor, verbo, saciedade e fome,
de repente se me afigura o verso, o samba, a namorada,
o bar,
em que sentado à mesa em boa companhia,
conheci o poeta sem jamais ter visto o homem:
o homem com seus sonhos de quem invejo os pares
inveja dos seus deuses de quem desejo as ninfas.
Na roda de cerveja, entre amigos e dilemas,
como um Castro Alves na província ardente de seu co-
ração,
recitei retórico a sina do operário
que erguendo a casa de sua liberdade
construía alheia a própria escravidão;
cantei o amor que tive e que não tive
(e por isso dura)
e porque era sábado
ali me apaixonei pela mulher distante,
leve e etérea como uma estrela longe,
feita não só do mangue de carências longas
e amarguras
mas da pureza vaga e sensual do sangue dos poemas.
In: VOGT, Carlos. Metalurgia: poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 1991
atento
antes, e com tal zelo, e sempre e tanto
que, se te espedaças em vão contra o infinito,
recolhem-se os fragmentos no teu canto
que sempre se inicia e é sempre último.
Por seres, pois, quem me foste um dia,
sombra e luz, azul e branco, carnaval e cinzas,
sugestão de amor, verbo, saciedade e fome,
de repente se me afigura o verso, o samba, a namorada,
o bar,
em que sentado à mesa em boa companhia,
conheci o poeta sem jamais ter visto o homem:
o homem com seus sonhos de quem invejo os pares
inveja dos seus deuses de quem desejo as ninfas.
Na roda de cerveja, entre amigos e dilemas,
como um Castro Alves na província ardente de seu co-
ração,
recitei retórico a sina do operário
que erguendo a casa de sua liberdade
construía alheia a própria escravidão;
cantei o amor que tive e que não tive
(e por isso dura)
e porque era sábado
ali me apaixonei pela mulher distante,
leve e etérea como uma estrela longe,
feita não só do mangue de carências longas
e amarguras
mas da pureza vaga e sensual do sangue dos poemas.
In: VOGT, Carlos. Metalurgia: poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 1991
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