Carlos Frydman

1924-11-15 Varsóvia (Polônia)
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Chuvisco Espanhol

Para Priscila Marie Netto Soares

Há chuviscos
em obliquidade precisa,
brincando, variando
na gravidade das tardes.

Há chuviscos
sem pressa,
indiferentes ao tempo
que nos levam
sem percebermos.

Sendo véus diáfanos, os chuviscos
clareiam anseios abandonados.

Sendo lantejoulas cristalinas,
projetam recordações nubladas.

Sendo tules de odaliscas
de natureza amainada,
casam com meu amor circunspecto
em meus ímpetos serenados.

Tomado pelo chuvisco
penso numa tarde flamenca
e vislumbro uma triste espanhola.
Seu olhar é envolvente e aguçado
e seu corpo esguio é enlaçado
num atávico chale rendado.

Ela ignora meu amor silente
mas me envolve num sonho realista
porque me conformo em sonhá-la
perdido num chuvisco,
afogado
em meus desejos contidos.


In: FRYDMAN, Carlos. Sintonia: poesia. Pref. Fábio Lucas. Apres. Henrique L. Alves. Campinas: Pontes, 1990
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CLAUDIANA
Adorei! ??
25/outubro/2018

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