Carnaval
Andaluzíssimas Manolas
que faz mais lindas a peineta,
soai, vibrai as castanholas
e a pandeireta!
E vós, dos bandós empoados,
ó Marquesinhas de Watteau,
que abrís os lábios recortados
em formas de ô!
Napolitanas, de escarlate
lenço à cabeça em cada orelha
um argolão, seios "di latte"
e de groselha!
Lascivas Zíngaras de olheiras,
ó pestanudas e fatais,
esfarrapadas feiticeiras
que adivinhais,
lendo nas mãos, sortes de amores,
fados de morte, ó desgraçadas
que, entre esses trapos de mil cores,
sois como Fadas!
Vinde, gementes Colombinas
que abandonou, sem pena, o amor,
ao triste som de mandolinas
da noite em flor!
E vós, soberbas Odaliscas
que Harum-al-Rachild invejara,
tendo um incêndio de faíscas
na carne clara!
Ó Nubianas d'azeviche
e brancos dentes de marfim,
como a giz, postos num fetiche
feito a nanquim!
Ó Gueixas dos jardins de Yeddo:
Nuvem que passa, Arco de jade,
Sonho de luz, casto Segredo,
Sol de bondade,
na graça alacre e flutuante
de aves e peixes e dragões
dos quimonos, à luz berrante
dos seus balões,
vinde! E vós, de que os grandes laços
à testa voam, gráceis lhanas,
para trazer-vos há cem braços,
Alsacianas!
Agora, ó Girls de saiote,
é vossa vez: eia, ao tan-tan
dumone-step, dum fox-trot...
troa o jazz-band!
Ó Baiadeiras! Eh, floristas!
Vós, Escocesas! Midinettes!
Ó saias-curtas! Sufragistas
e gigolettes!
Dai-vos as mãos: e andai à roda,
que a mascarada às ruas sai,
andai à roda, à roda toda!
E desandai!
E queira o céu que a água não role,
que não desbote o rico traje,
mas o divino emplastro mole
dos "maquillages"...
Dirija a ronda a minha Musa
que apenas usa pó de arroz,
pois quanto ao "rouge" que a lambuza,
foi Deus que o pôs...
Imagem - 00350001
In: GUIMARAENS, Eduardo. A divina quimera. Org. e pref. Mansueto Bernardi. Porto Alegre: Globo, 1944. Poema integrante da série Estâncias de um Peregrino
que faz mais lindas a peineta,
soai, vibrai as castanholas
e a pandeireta!
E vós, dos bandós empoados,
ó Marquesinhas de Watteau,
que abrís os lábios recortados
em formas de ô!
Napolitanas, de escarlate
lenço à cabeça em cada orelha
um argolão, seios "di latte"
e de groselha!
Lascivas Zíngaras de olheiras,
ó pestanudas e fatais,
esfarrapadas feiticeiras
que adivinhais,
lendo nas mãos, sortes de amores,
fados de morte, ó desgraçadas
que, entre esses trapos de mil cores,
sois como Fadas!
Vinde, gementes Colombinas
que abandonou, sem pena, o amor,
ao triste som de mandolinas
da noite em flor!
E vós, soberbas Odaliscas
que Harum-al-Rachild invejara,
tendo um incêndio de faíscas
na carne clara!
Ó Nubianas d'azeviche
e brancos dentes de marfim,
como a giz, postos num fetiche
feito a nanquim!
Ó Gueixas dos jardins de Yeddo:
Nuvem que passa, Arco de jade,
Sonho de luz, casto Segredo,
Sol de bondade,
na graça alacre e flutuante
de aves e peixes e dragões
dos quimonos, à luz berrante
dos seus balões,
vinde! E vós, de que os grandes laços
à testa voam, gráceis lhanas,
para trazer-vos há cem braços,
Alsacianas!
Agora, ó Girls de saiote,
é vossa vez: eia, ao tan-tan
dumone-step, dum fox-trot...
troa o jazz-band!
Ó Baiadeiras! Eh, floristas!
Vós, Escocesas! Midinettes!
Ó saias-curtas! Sufragistas
e gigolettes!
Dai-vos as mãos: e andai à roda,
que a mascarada às ruas sai,
andai à roda, à roda toda!
E desandai!
E queira o céu que a água não role,
que não desbote o rico traje,
mas o divino emplastro mole
dos "maquillages"...
Dirija a ronda a minha Musa
que apenas usa pó de arroz,
pois quanto ao "rouge" que a lambuza,
foi Deus que o pôs...
Imagem - 00350001
In: GUIMARAENS, Eduardo. A divina quimera. Org. e pref. Mansueto Bernardi. Porto Alegre: Globo, 1944. Poema integrante da série Estâncias de um Peregrino
670
0
Mais como isto
Ver também