Jorge de Sena
Jorge Cândido de Sena foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
1919-11-02 Lisboa
1978-06-04 Santa Bárbara, Califórnia, EUA
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A Portugal
Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço.
És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço.
És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não
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Mais como isto
Ver também
Hugo
https://www.youtube.com/watch?v=NFmZ13p4B3o
17/setembro/2023
Helena Antunes
Justíssimo!!
18/março/2022
Roberta Azevedo Gomes
Obrigada Sena... Jorge... eu amo-te muito e vou continuar a encontrar-te.
01/novembro/2016
Mário Botelho
Adoro
23/julho/2016
Sandra de Moura Ramos
5 de Outubro de 2015.
Perfeitamente actual.
05/outubro/2015
pedro bessa
Alexandre O’Neill, 1965
PORTUGAL
Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
*
Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há “papo-de-anjo” que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós . . .
26/outubro/2014
António Menici Malheiro
O poema "A Portugal" justifica que Jorge de Sena, tenha preferido a cidadania brasileira.
Tudo ficou no seu devido lugar, o lixo português foi para o "lixão" brasileiro, o que é sina dessa ex-colónia e que fez com que ela ainda hoje, seja muito mais meritória que este poema se chamasse "Ao Brasil".
Ah Seninha, escória lusa, lá onde estás agora, cuida-te para não encontrares Camões, porque ele te arrancará todas as medalhas que recebeste da escumalha comunista, traidora e apátria.
"Nossaaa! Qui mánia tem os portugas di mandarem prá cá, todos os vágábundo qui num querem lá".
Tudo ficou no seu devido lugar, o lixo português foi para o "lixão" brasileiro, o que é sina dessa ex-colónia e que fez com que ela ainda hoje, seja muito mais meritória que este poema se chamasse "Ao Brasil".
Ah Seninha, escória lusa, lá onde estás agora, cuida-te para não encontrares Camões, porque ele te arrancará todas as medalhas que recebeste da escumalha comunista, traidora e apátria.
"Nossaaa! Qui mánia tem os portugas di mandarem prá cá, todos os vágábundo qui num querem lá".
02/abril/2013
Rui
Que grande confusão vai nessa máquina de lavar...
28/novembro/2021
Helena Antunes
Vai uma grande confusão e também falta de leitura!! Vamos lá ler uns livros!
18/março/2022