Elegia para um Nascimento

Da noite em que, lúcidos, sonhamos
Pouca coisa resta a esquecer:
Do que sonhamos na extrema lucidez
Nada mais resta para se sofrer.
De um profundo silêncio
— Íntimo como o fundo do mar —
O sonho emergiu trazendo os vestígios de sangue e de linfa,
Onde antes o Ser repousava,
E a noite era um mundo fechado,
Era um ventre obscuro,
Gerando monstros ou deuses.
Lúcidos, de nossos sonhos, emersos,
Os fizemos nascer, monstros ou deuses,
Reais como nunca fomos
Ou pudéramos ser.
Da noite em que lúcidos sonhamos
Pouca coisa resta a esquecer.
fonte menor(Sanatório Ana Nery — março 1960)
Eu, sob o látego da fome e sede compelido,
Atado à roda de Krishna, paralisados, abúlicos dedos.
Eu,
Sem remorso ou maldição,
Agora
Bebo do copo que Fausto recusou.

(Hospital Juliano Moreira)

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