Bruno Seabra

1837-10-06 Belém
1876-04-08 Salvador
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Moreninha

— Moreninha, dás-me um beijo.
— E o que me dá, meu senhor?
— Este cravo...
— Ora, esse cravo!
De que me serve uma flor?
Há tantas flores nos campos!
Hei de agora, meu senhor,
Dar-lhe um beijo por um cravo?
É barato; guarde a flor.

— Dá-me o beijo, moreninha,
Dou-te um corte de cambraia.
— Por um beijo tanto pano!
Compro de graça uma saia!
Olhe que perde na troca,
Como eu perdera com a flor;
Tanto pano por um beijo...
Sai-lhe caro, meu senhor.

— Anda cá... ouve um segredo...
— Ai, pois quer fiar-se em mim?
Deus o livre; eu falo muito,
Toda mulher é assim...

E um segredo... ora um segredo. ..
Pelos modos que lhe vejo
Quer o meu beijo de graça,
Um segredo por um beijo?!

— Quero dizer-te aos ouvidos
Que tu és uma rainha...
Acha, pois? e o que tem isso?
Quer ser rei, por vida minha?

— Quem dera que tu quisesses...
— Não duvide, que o farei;
Meu senhor, case com ela,
A rainha o fará rei...

— Casar-me?... ainda sou tão moço...
— Como é criança esta ovelha!
Pois eu pra beijar crianças,
Adeusinho, já sou velha.

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