Elegia Sem Posse

mesmo solto na altura dos bêbados
tenha o gosto e a certeza do pó
que trago no chão de cada dia
onde no sonho me desgarro
querendo a noite maior

atravesso sem redenção
o rio que transporta
à noite da eternidade:
ó gueto, raiz que não furo
e quase lhe alcanço a entrada

mas minha imagem dilui-se
em meu sonho embriagado
quando em peso a noite desaba
entre o vinho e esse tráfego
na calçada que não agride

lambendo a borra nos lábios
e mastigando o lamento
por essa investia em vão —
não estou de posse da carne
estou repleto do que falta.

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