José Miguel Silva
Poeta português dono de uma língua afiadíssima para o sarcasmo e ironia. Vive na pequena cidade de Serém, onde trabalha como tradutor.
Vila Nova de Gaia
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Hades
Quem não ama o seu deserto
pode amar o colectivo?
São onze da manhã e já a rua
me pergunta:
que te fez sair de casa?
Vagueio pela margem
deste rio sulfuroso, cruzo-me
convosco, dou ouvidos a carteiros,
vendedores de talismãs,
de histórias mal feridas,
de tapetes que ninguém desenrolou.
Acompanham-me os gemidos
emitidos pela tarde.
Contorno os infelizes
automóveis, dou a Lázaro
(que nem se chama Lázaro)
o cigarro do costume, retribuo
a piedade que me olha.
Continuo noite fora, pela borda dos cafés
onde as cartas são batidas por azar
e a morte, triunfante,
convida a novo copo de veneno.
Quando a luz luciferina da manhã
já se comenta nas vielas,
subo a gola do casaco,
procuro uma parede imaculada
e deixo a gotejar esta pergunta:
AQUILES, ONDE ESTÁS?
pode amar o colectivo?
São onze da manhã e já a rua
me pergunta:
que te fez sair de casa?
Vagueio pela margem
deste rio sulfuroso, cruzo-me
convosco, dou ouvidos a carteiros,
vendedores de talismãs,
de histórias mal feridas,
de tapetes que ninguém desenrolou.
Acompanham-me os gemidos
emitidos pela tarde.
Contorno os infelizes
automóveis, dou a Lázaro
(que nem se chama Lázaro)
o cigarro do costume, retribuo
a piedade que me olha.
Continuo noite fora, pela borda dos cafés
onde as cartas são batidas por azar
e a morte, triunfante,
convida a novo copo de veneno.
Quando a luz luciferina da manhã
já se comenta nas vielas,
subo a gola do casaco,
procuro uma parede imaculada
e deixo a gotejar esta pergunta:
AQUILES, ONDE ESTÁS?
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