Edmir Domingues
Edmir Domingues da Silva foi um advogado e poeta brasileiro.
1927-06-08 Recife Pernambuco Brasil
2001-04-01 Recife
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Lição de abismo
A árvore. Onde estará?
Em que lote, em que terreno,
em que bosque, em que floresta,
terá crescido, e sugado
a vida do pó da terra?
Será que ainda existe a árvore?
a copa de passarinhos
verde e viva, verdejando,
uma sombra ao pé da estrada?
Ou será que está cortada,
desfeita em pranchas polidas,
empilhadas, empoeiradas,
madeira de serraria?
0 ferro. Em que mina o ferro
simples minério repousa
a sua paz mineral?
Será que já foi colhido
por negros braços mineiros
e trazido à luz do sol?
Será que já soube a forja
o fogo, o malho, a bigorna,
onde depois de batido
será composto em martelo?
Estará pronto o martelo?
O cabo talvez tirado
dos rijos galhos cortados
da planta desfeita em pranchas?
Os pregos. Já serão pregos
já maquinofaturados
talvez desse mesmo ferro
de que foi feito o martelo?
A mão. Que estará fazendo
a mão, neste exato instante?
Será jovem, será velha
a mão, será negra ou branca?
E assim, já composto o quadro,
quando estarão todos juntos,
a mão, o martelo, os pregos,
a madeira (e o seu destino),
para que, juntos, componham
meu caixão, meu ataúde?
Talvez a mão distraída,
pregando os pregos não sinta
que a boca do mesmo corpo
trauteia a canção da vida,
um canto simples de amor.
Talvez tudo esteja pronto,
o trabalho esteja feito,
e já se veja o ataúde
brilhando no mostruário.
E só não tenha chegado,
para o final da comédia,
o momento que não tarda
que vem por certo em caminho.
Em que lote, em que terreno,
em que bosque, em que floresta,
terá crescido, e sugado
a vida do pó da terra?
Será que ainda existe a árvore?
a copa de passarinhos
verde e viva, verdejando,
uma sombra ao pé da estrada?
Ou será que está cortada,
desfeita em pranchas polidas,
empilhadas, empoeiradas,
madeira de serraria?
0 ferro. Em que mina o ferro
simples minério repousa
a sua paz mineral?
Será que já foi colhido
por negros braços mineiros
e trazido à luz do sol?
Será que já soube a forja
o fogo, o malho, a bigorna,
onde depois de batido
será composto em martelo?
Estará pronto o martelo?
O cabo talvez tirado
dos rijos galhos cortados
da planta desfeita em pranchas?
Os pregos. Já serão pregos
já maquinofaturados
talvez desse mesmo ferro
de que foi feito o martelo?
A mão. Que estará fazendo
a mão, neste exato instante?
Será jovem, será velha
a mão, será negra ou branca?
E assim, já composto o quadro,
quando estarão todos juntos,
a mão, o martelo, os pregos,
a madeira (e o seu destino),
para que, juntos, componham
meu caixão, meu ataúde?
Talvez a mão distraída,
pregando os pregos não sinta
que a boca do mesmo corpo
trauteia a canção da vida,
um canto simples de amor.
Talvez tudo esteja pronto,
o trabalho esteja feito,
e já se veja o ataúde
brilhando no mostruário.
E só não tenha chegado,
para o final da comédia,
o momento que não tarda
que vem por certo em caminho.
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