Adélia Prado
Adélia Luzia Prado Freitas é uma escritora brasileira. Seus textos retratam o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único.
1935-12-13 Divinópolis, Minas Gerais, Brasil
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Exercício Espiritual
Maria,
roga a teu Filho que me mostre o Pai.
Imagens sobrevêm:
homem, vinheta, instrumento,
o que ameaça ser um leque de penas
e é uma cabeça de naja,
a perigosa serpente.
Quero ver o Pai, insisto,
roga a teu Filho que me mostre o Pai.
Um dente, uma vulva,
um molho de nabos comparecem,
gerados, como eu, do nada.
De onde vêm os nabos, Maria?
Onde está o Pai?
De onde vim?
Move-se na parede um cavalo de sol.
É o Pai?
Não,
é só uma sombra e já se desfaz.
O Pai, então, é uma usina?
Meu pai dizia: ó Pai!
E levantava os braços respeitoso.
Também meu avô: Deus é Pai!
E tirava o chapéu.
Assim, um pai remetendo a outro
e mais outro e outro mais,
enfim, a milhões de pais até Adão,
que sou eu acordando de um sonho,
apenas “raia sanguínea e fresca
a madrugada”, filha de parnasiano,
que me encantava quando eu era mocinha,
filha de ferroviário,
cansada agora
como feirante ao meio-dia:
ai, meu pai,
me ajuda a torrar o resto
deste lote de abóboras,
me tira da cabeça
a ideia de ver Deus-Pai,
me dá um pito e um café.
roga a teu Filho que me mostre o Pai.
Imagens sobrevêm:
homem, vinheta, instrumento,
o que ameaça ser um leque de penas
e é uma cabeça de naja,
a perigosa serpente.
Quero ver o Pai, insisto,
roga a teu Filho que me mostre o Pai.
Um dente, uma vulva,
um molho de nabos comparecem,
gerados, como eu, do nada.
De onde vêm os nabos, Maria?
Onde está o Pai?
De onde vim?
Move-se na parede um cavalo de sol.
É o Pai?
Não,
é só uma sombra e já se desfaz.
O Pai, então, é uma usina?
Meu pai dizia: ó Pai!
E levantava os braços respeitoso.
Também meu avô: Deus é Pai!
E tirava o chapéu.
Assim, um pai remetendo a outro
e mais outro e outro mais,
enfim, a milhões de pais até Adão,
que sou eu acordando de um sonho,
apenas “raia sanguínea e fresca
a madrugada”, filha de parnasiano,
que me encantava quando eu era mocinha,
filha de ferroviário,
cansada agora
como feirante ao meio-dia:
ai, meu pai,
me ajuda a torrar o resto
deste lote de abóboras,
me tira da cabeça
a ideia de ver Deus-Pai,
me dá um pito e um café.
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