Vinicius de Moraes
Vinícius de Moraes, nascido Marcus Vinicius de Moraes foi um diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor brasileiro.
1913-10-19 Gávea, Rio de Janeiro, Brasil
1980-07-09 Rio de Janeiro, Brasil
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A Grande Voz
É terrível, Senhor! Só a voz do prazer cresce nos ares.
Nem mais um gemido de dor, nem mais um clamor de heroísmo
Só a miséria da carne, e o mundo se desfazendo na lama da carne.
É terrível, Senhor. Desce teus olhos.
As almas sãs clamam a tua misericórdia.
Elas creem em ti. Creem na redenção do sacrifício.
Dize-lhes, Senhor, que és o Deus da Justiça e não da covardia
Dize-lhes que o espírito é da luta e não do crime.
Dize-lhes, Senhor, que não é tarde!
Senhor! Tudo é blasfêmia e tudo é lodo.
Se um lembra que amanhã é o dia da miséria
Mil gritam que hoje é o dia da carne.
Olha, Senhor, antes que seja tarde
Abandona um momento os puros e os bem-aventurados
Desvia um segundo o teu olhar de Roma
Dá remédio a esta infelicidade sem remédio
Antes que ela corrompa os bem-aventurados e os puros.
Não, meu Deus. Não pode prevalecer o prazer e a mentira.
A Verdade é o Espírito. Tu és o Espírito supremo
E tu exigiste de Abraão o sacrifício de um filho.
Na verdade o que é forte é o que mata se o Espírito exige.
É o que sacrifica à causa do bem seu ouro e seu filho.
A alma do prazer é da terra. A alma da luta e do espaço.
E a alma do espaço aniquilará a alma da terra
Para que a Verdade subsista.
Talvez, Senhor meu Deus, fora melhor
Findar a humanidade esfacelada
Com o fogo sagrado de Sodoma.
Melhor fora, talvez, lançar teu raio
E terminar eternamente tudo.
Mas não, Senhor. A morte aniquila — ao fraco a morte inglória.
A luta redime — ao forte a luta e a vida.
Mais vale, Senhor, a tua piedade
Mais vale o teu amor concitando ao combate último.
Senhor, eu não compreendo os teus sagrados desígnios.
Jeová — tu chamaste à luta os homens fortes
Tua mão lançou pragas contra os ímpios
Tua voz incitou ao sacrifício da vida as multidões.
Jesus — tu pregaste a parábola suave
Tu apanhaste na face humildemente
E carregaste ao Gólgota o madeiro.
Senhor, eu não os compreendo, teus desígnios.
Senhor, antes de seres Jesus a humanidade era forte
Os homens bons ouviam a doçura da tua voz
Os maus sentiam a dureza da tua cólera.
E depois, depois que passaste pelo mundo
Teu doce ensinamento foi esquecido
Tua existência foi negada
Veio a treva, veio o horror, veio o pecado
Ressuscitou Sodoma.
Senhor, a humanidade precisa ouvir a voz de Jeová
Os fortes precisam se erguer de armas em punho
Contra o mal — contra o fraco que não luta.
A guerra, Senhor, é em verdade a lei da vida
O homem precisa lutar, porque está escrito
Que o Espírito há de permanecer na face da Terra.
Senhor! Concita os fortes ao combate
Sopra nas multidões inquietas o sopro da luta
Precipita-nos no horror da avalancha suprema.
Dá ao homem que sofre a paz da guerra
Dá à terra cadáveres heroicos
Dá sangue quente ao chão!
Senhor! Tu que criaste a humanidade.
Dize-lhe que o sacrifício será a redenção do mundo
E que os fracos hão de perecer nas mãos dos fortes.
Dá-lhe a morte no campo de batalha
Dá-lhe as grandes avançadas furiosas
Dá-lhe a guerra, Senhor!
Nem mais um gemido de dor, nem mais um clamor de heroísmo
Só a miséria da carne, e o mundo se desfazendo na lama da carne.
É terrível, Senhor. Desce teus olhos.
As almas sãs clamam a tua misericórdia.
Elas creem em ti. Creem na redenção do sacrifício.
Dize-lhes, Senhor, que és o Deus da Justiça e não da covardia
Dize-lhes que o espírito é da luta e não do crime.
Dize-lhes, Senhor, que não é tarde!
Senhor! Tudo é blasfêmia e tudo é lodo.
Se um lembra que amanhã é o dia da miséria
Mil gritam que hoje é o dia da carne.
Olha, Senhor, antes que seja tarde
Abandona um momento os puros e os bem-aventurados
Desvia um segundo o teu olhar de Roma
Dá remédio a esta infelicidade sem remédio
Antes que ela corrompa os bem-aventurados e os puros.
Não, meu Deus. Não pode prevalecer o prazer e a mentira.
A Verdade é o Espírito. Tu és o Espírito supremo
E tu exigiste de Abraão o sacrifício de um filho.
Na verdade o que é forte é o que mata se o Espírito exige.
É o que sacrifica à causa do bem seu ouro e seu filho.
A alma do prazer é da terra. A alma da luta e do espaço.
E a alma do espaço aniquilará a alma da terra
Para que a Verdade subsista.
Talvez, Senhor meu Deus, fora melhor
Findar a humanidade esfacelada
Com o fogo sagrado de Sodoma.
Melhor fora, talvez, lançar teu raio
E terminar eternamente tudo.
Mas não, Senhor. A morte aniquila — ao fraco a morte inglória.
A luta redime — ao forte a luta e a vida.
Mais vale, Senhor, a tua piedade
Mais vale o teu amor concitando ao combate último.
Senhor, eu não compreendo os teus sagrados desígnios.
Jeová — tu chamaste à luta os homens fortes
Tua mão lançou pragas contra os ímpios
Tua voz incitou ao sacrifício da vida as multidões.
Jesus — tu pregaste a parábola suave
Tu apanhaste na face humildemente
E carregaste ao Gólgota o madeiro.
Senhor, eu não os compreendo, teus desígnios.
Senhor, antes de seres Jesus a humanidade era forte
Os homens bons ouviam a doçura da tua voz
Os maus sentiam a dureza da tua cólera.
E depois, depois que passaste pelo mundo
Teu doce ensinamento foi esquecido
Tua existência foi negada
Veio a treva, veio o horror, veio o pecado
Ressuscitou Sodoma.
Senhor, a humanidade precisa ouvir a voz de Jeová
Os fortes precisam se erguer de armas em punho
Contra o mal — contra o fraco que não luta.
A guerra, Senhor, é em verdade a lei da vida
O homem precisa lutar, porque está escrito
Que o Espírito há de permanecer na face da Terra.
Senhor! Concita os fortes ao combate
Sopra nas multidões inquietas o sopro da luta
Precipita-nos no horror da avalancha suprema.
Dá ao homem que sofre a paz da guerra
Dá à terra cadáveres heroicos
Dá sangue quente ao chão!
Senhor! Tu que criaste a humanidade.
Dize-lhe que o sacrifício será a redenção do mundo
E que os fracos hão de perecer nas mãos dos fortes.
Dá-lhe a morte no campo de batalha
Dá-lhe as grandes avançadas furiosas
Dá-lhe a guerra, Senhor!
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