Noite

Que noite, minha cara!
Nas horas mais cruas
Infinitos desejos se escondem
Nas dobras quentes de meu leito

E queimam como brasas.
Desejo-conflito, próximo e contido
Poreja a pele de suor frio
E a garganta dói, num espasmo

Quer ceder e não cede.
Segura com força esta noite
Aperta nas mãos esta dor.
Mas não vai, não vai...

Ouço tua respiração
Rítmica, serena e falsa.
Um vazio enorme derrama
No quarto, nas paredes

Mas, não vai, não vai...

Que noite solitária essa
O mundo é sem volta
A vontade não importa
Não posso ir, eu já sei

Não existe mais nada além:
São cacos que machucam
E ferem no abraço angustiante
Dos braços apertados no próprio peito!

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