Solidão
I
Aqui, estive a ponto de morrer numa noite de Fevereiro.
O carro patinou no gelo, derrapou de lado e seguiu
na faixa contrária. Os carros aproximando-se –
os seus faróis – cada vez mais perto.
O meu nome, as minhas filhas, o meu emprego
desprenderam-se e ficaram para trás em silêncio
cada vez mais para trás. Eu estava anónimo,
como uma criança num pátio de colégio cercada de inimigos.
Era poderosa a luz do tráfego aproximando-se.
Iluminava-me à medida que girava e girava
o volante num medo transparente agitado como clara de ovo.
Os segundos dilatavam-se – ocupando mais espaço –
engrandeciam como edifícios de hospital.
Podia-se quase ficar à vontade
e um tudo nada descontraído
antes do choque se dar.
Então surgiu terra firme: veio em socorro um grão de areia
ou uma rajada súbita de vento. O carro agarrou-se
derrapou, atravessou a estrada.
Elevou-se um poste e quebrou-se – um som vibrante
juntou-se à escuridão.
Até que chegou o silêncio. Sentado e seguro pelo cinto
vi alguém caminhar no turbilhão da neve
para ver o que restava de mim.
II
A caminhar durante horas
pelos campos gelados da Suécia
não consegui ver ninguém.
Noutras partes do mundo
pessoas nascem, vivem e morrem
em perpétua multidão.
Ser constantemente visível – viver
num enxame de olhos –
deixa marcas no rosto.
Sulcos revestidos de pó.
O murmúrio que sobe e desce
enquanto dividem entre si
o céu, as sombras, os grãos de areia.
Tenho de estar a sós
dez minutos pela manhã
dez minutos pela tarde.
- Sem fazer nada.
Todos fazem fila à porta de todos.
Muitos.
Um.
Aqui, estive a ponto de morrer numa noite de Fevereiro.
O carro patinou no gelo, derrapou de lado e seguiu
na faixa contrária. Os carros aproximando-se –
os seus faróis – cada vez mais perto.
O meu nome, as minhas filhas, o meu emprego
desprenderam-se e ficaram para trás em silêncio
cada vez mais para trás. Eu estava anónimo,
como uma criança num pátio de colégio cercada de inimigos.
Era poderosa a luz do tráfego aproximando-se.
Iluminava-me à medida que girava e girava
o volante num medo transparente agitado como clara de ovo.
Os segundos dilatavam-se – ocupando mais espaço –
engrandeciam como edifícios de hospital.
Podia-se quase ficar à vontade
e um tudo nada descontraído
antes do choque se dar.
Então surgiu terra firme: veio em socorro um grão de areia
ou uma rajada súbita de vento. O carro agarrou-se
derrapou, atravessou a estrada.
Elevou-se um poste e quebrou-se – um som vibrante
juntou-se à escuridão.
Até que chegou o silêncio. Sentado e seguro pelo cinto
vi alguém caminhar no turbilhão da neve
para ver o que restava de mim.
II
A caminhar durante horas
pelos campos gelados da Suécia
não consegui ver ninguém.
Noutras partes do mundo
pessoas nascem, vivem e morrem
em perpétua multidão.
Ser constantemente visível – viver
num enxame de olhos –
deixa marcas no rosto.
Sulcos revestidos de pó.
O murmúrio que sobe e desce
enquanto dividem entre si
o céu, as sombras, os grãos de areia.
Tenho de estar a sós
dez minutos pela manhã
dez minutos pela tarde.
- Sem fazer nada.
Todos fazem fila à porta de todos.
Muitos.
Um.
123
0
Mais como isto
Ver também