Tomas Tranströmer

Tomas Tranströmer

1932-04-15 Stockholm
2015-03-26 Stockholm
17517
0
1


Prémios e Movimentos

Nobel 2011

Alguns Poemas

Schubertiana

1
Longe de Nova York, um lugar alto donde se avistam
as casas em que oito milhões de seres vivos habitam.
A cidade gigante para aqueles lados é uma longa deriva cintilante, uma galáxia
em espiral vista de lado.
Dentro da galáxia, chávenas de café são arrastadas pela secretária,
janelas de armazém suplicam, um turbilhão de sapatos que não deixam
nenhum rasto.
O fogo escapa-se ao alto, portas de elevador fecham-se silenciosamente
por detrás de portas fechadas a sete chaves, um volume cheio de vozes.
Corpos tombados dormitam em carros subterrâneos, catacumbas em
movimento.
Sei também – estatísticas à parte – que neste momento
nalguma sala mais abaixo toca-se Schubert, e que
para essa pessoa as notas são mais reais que tudo o resto. 

2
As imensas planícies sem árvores do cérebro humano acabaram
por se dobrar e redobrar até ficarem do tamanho de um punho.
Em Abril a andorinha regressa ao ninho do ano anterior sob o
beiral precisamente no mesmo celeiro precisamente no mesmo
distrito.
Voa do Transval, passa o equador, voa durante seis
semanas por cima de dois continentes, navega com precisão para
este ponto extenuado na massa da terra.
E o homem que reúne os sinais de uma vida inteira
nalguns acordes vulgares para cinco músicos de cordas
aquele que tem um rio para atravessar pelo buraco duma agulha
é um jovem roliço de Viena, os amigos chamam-no
“O Cogumelo”, que dormia de óculos postos
e se punha pelas manhãs pontualmente à escrivaninha.
Quando o fazia centopeias magníficas desatavam a mover-se
sobre a página. 

3
Tocam os cinco instrumentos. Volto para casa pelo calor dos bosques
onde a terra se distende sob os meus pés,
enrolo-me como alguém ainda por nascer, adormeço, vagueio imponderável
para o futuro, sinto de súbito que as plantas estão
a pensar.

4
Quanto nos leva cada minuto a acreditar que vivemos
para não nos esvairmos pela terra adentro!
A acreditar em massas de neve agarrando-se à superfície das rochas sobre
a cidade.
A acreditar nas promessas não faladas e no sorriso da
concórdia, a acreditar que o telegrama não é connosco, e
que o súbito golpe do machado não vem por dentro.
A acreditar nos eixos que nos levam pela estrada fora entre abelhas
de aço trezentas vezes ampliadas.
Mas nada disso merece de facto a nossa crença.
Os cinco instrumentos de cordas dizem que podemos ser levados
a acreditar noutra coisa qualquer, e por instantes acompanham-nos na estrada.
Tal qual a lâmpada que se apaga nas escadas, e a mão
seguindo – acreditando – no corrimão cego que faz o seu
caminho pela escuridão adentro. 

5
Juntamo-nos ao banco do piano e tocamos a quatro mãos em Fá
menor, dois condutores para o mesmo carro, parece um pouco
ridículo.
As mãos parecem movimentar pesos feitos de sons
para diante e para trás, parecem movimentar pesos pesados
numa tentativa de mudar a grande escala do temível equilíbrio:
felicidade e sofrimento pesam exactamente o mesmo.
Annie disse, “Esta música é tão heróica”, e tem razão.
Mas aqueles que lançam um olhar invejoso ao homem de acção, aqueles que
por dentro se desprezam por não serem assassinos,
não se descobrem nesta música.
E as pessoas que compram e vendem outras pessoas, que acreditam
que não há ninguém que não possa ser comprado, não se descobrem aqui.
Não é a sua música. A longa linha melódica que permanece igual
entre todas as suas variações, por vezes brilhante e delicada,
por vezes áspera e poderosa, rastro de caracol e arame
de aço.
O obstinado sussurro deste instante que está connosco
para cima para
o fundo.

Gôndola Triste 2

1
Dois velhos, sogro e genro, Liszt e Wagner,
estão hospedados perto do Grande Canal
juntos com a mulher inquieta casada com o Rei Midas
o homem que transforma tudo o que toca em Wagner.
O frio verde glacial do mar faz o seu caminho pelos soalhos do
palácio.
Wagner está um farrapo, o seu famoso perfil de roberto está mais enrugado
que nunca
o rosto uma bandeira branca.
A gôndola vai carregada com três vidas, dois bilhetes de ida e volta e um
de ida.

2
Uma das janelas do palácio abre-se de súbito, lá dentro as pessoas
assombram-se com a repentina corrente de ar.
Cá fora surge nas águas a gôndola do lixo conduzida
por dois bandidos de um só remo.
Liszt compôs uns acordes tão pesados que têm
de ser enviados
ao instituto mineralógico de Pádua para análise.
Meteoritos!
demasiado pesados para se firmarem, só podem ir ao fundo, ao fundo,
a pique para o futuro,
para os anos dos camisas castanhas.
A gôndola vai carregada com as pedras submissas do futuro.

3
Frestas, abrindo-se em 1990

25 de Março. Ansiedade pela Lituânia.
Sonhei que visitava um hospital grande.
Sem pessoal médico. Todos doentes.

No mesmo sonho uma menina recém-nascida
que dizia frases completas. 

4
Ao lado do genro, que é um senhor de idade, Liszt
é um Grand Seigneur roído pela traça.
É um disfarce.
O abismo que experimenta e rejeita diferentes máscaras escolheu
esta para ele.
O abismo que deseja entrar, visitar os humanos sem
mostrar o rosto.

5
O abade Liszt está habituado a carregar a mala
pela neve suja e ao sol
mas chegada a hora da morte ninguém há-de ir ter com ele à
estação.
Uma brisa quente saturada de conhaque leva-o a sair
a meio de um dever.
Os deveres nunca o largam.
Duas mil cartas por ano!
O aluno que tem de escrever a palavra mal soletrada cem
vezes antes de ir para casa.
A gôndola vai carregada de vida, é simples e negra. 

6
De novo 1990.

Sonhei que andei 200 quilómetros para nada.
Tudo aumentou de volume. Pardais grandes
como galinhas cantavam ensurdecedores.

Sonhei que desenhava teclas de piano
na mesa da cozinha. Em silêncio tocava nelas.
Os vizinhos entraram para ouvir.

7
O teclado que se manteve em silêncio ao longo de todo o Parsifal
(mas que o escutou) tem finalmente direito a dizer algo.
Suspiros … sospiri …
Liszt ao tocar mantém esta noite o pedal marítimo em baixo
para que o poder verde do mar suba pelo soalho acima
e se misture com as pedras do edifício.
Boa noite, lindo abismo!
A gôndola vai carregada de vida, é simples e negra.

8
Sonhei que começavam hoje as aulas e que cheguei tarde.
Na sala todos usavam uma máscara branca.
Impossível dizer quem era o professor.

Prelúdios

1
Recuo diante de uma coisa que se arrasta de lado pela
tempestade de neve.
Fragmento do que está para vir.
Uma parede esboroando-se. Uma coisa sem olhos. Rija.
Um rosto de dentes.
Uma parede solitária. Ou é uma casa que ali está
embora a não consiga ver?
O futuro … um exército de casas vazias
tacteando o caminho pela neve que cai. 

2
Duas verdades aproximam-se uma da outra. Uma vem de dentro,
outra de fora,
e onde se encontram é possível ter um indício
de nós.

O homem que vê o que está para acontecer grita desvairado
“Alto!
Seja o que for, desde que não tenha de me conhecer a mim mesmo.”

E há um barco que se quer amarrar à terra – insiste mesmo
aqui –
de facto insistirá ainda milhares de vezes.

Da escuridão dos bosques surge um longo arpão,
irrompe pela janela aberta
entre os convidados que aquecem dançando.

3
O apartamento onde vivi metade da minha vida tem de ficar vazio. Já não tem nada. A âncora tem
de subir – apesar do peso da tristeza, é o apartamento mais leve de toda a cidade. A verdade não
precisa de nenhuma mobília. A minha vida fechou agora um grande círculo e voltou ao ponto de
partida: uma sala vazia. Coisas que nela vivi tornam-se visíveis nas paredes iguais a pinturas
egípcias, murais duma câmara funerária. Imagens esbatendo-se devido a uma luz excessiva. As
janelas mais largas. O apartamento vazio é um grande telescópio apontado ao céu. É silencioso
como um ritual Quaker. Tudo o que podes escutar são as pombas nas traseiras, o arrulhar delas.
Tomas Tranströmer - Documentary Nobel Laureates [2011]
Tomas Tranströmer Interview: "The Music Says Freedom Exists"
Tomas Tranströmer receives his Nobel Prize
Tomas Tranströmer - Romanska bågar
Tomas Tranströmer reads "Snow Melting Time, 1966" (English & Swedish), 1974 — The Poetry Center
Trainsformers 3 Remastered - Widescreen
Tomas Tranströmer - Madrigal
"The Blue House" - Poem by Tomas Tranströmer performed by Louise Korthals & Tom Jönsthövel
Reading: Robert Hass
Tomas Tranströmer intervju 1989
Tomas Tranströmer Reads From His Work
Interview with Tomas Tranströmer, 2011 Nobel Prize in Literature
Nocturne (English Translation) // Tomas Tranströmer
Tomas Tranströmer - C-dur
TRAINS-FORMERS REBORN | Opthomas Prime Returns!
Tomas Tranströmer förklarad | SVENSKA | Gymnasienivå
Tomas Tranströmer - Gläntan
Tomas Tranströmer - Paret
Tomas Transtromer 2014
Tomas Tranströmer - Efter någons död
Trainsformers 200T Remastered - Widescreen
Die schönste Poesie des Tomas Tranströmer (Radiofeature)
Jane Hirshfield Reads "Tracks" by Tomas Transtromer
Tomas Tranströmer - Eldklotter
'Half-Finished Heaven' by Tomas Tranströmer | Awareness-raising poems
UCLA Uncut: Ross Shideler on Tomas Transtromer
TRAINS-FORMERS: Gauge of Extinction - A Mash-Up Parody Trailer
Tomas Tranströmer framför fyra egna dikter
Tomas Tranströmer - Gläntan
Tomas Tranströmer - Allegro
Tomas Transtromer - Lifetime Recognition award
Peter Handke (Nobel Lecture 2019) reads in Swedish Tomas Tranströmer’s poem: Romanesque Arches -subt
Framåt Natten - Thomas Tranströmer (SVT 1989-03-16)
Tomas Tranströmer - Schubertiana
The Nobel Prize in Literature, 2011 - Tomas Tranströmer
Trainsformers Remastered - Widescreen
Tomas Tranströmer - Öppna och slutna rum
Trainsformers 4 Remastered - Widescreen
Tranströmer intervjuas och läser dikten Allegro
Tomas Tranströmer - Epilog
Tomas Tranströmer - Epigram
Tomas Tranströmer
Nobel 2011:Professor Kjell Espmarks tal till Tomas Tranströmer.
Tomas Tranströmer - Öppna och slutna rum
TOMAS TRANSTROMER La Radura
(Official) TRAINS-FORMERS 5
Via Vitae - Romanska Bågar - Tomas Tranströmer/Per Gunnar Petersson
Tomas Transtromer Aprile e Silenzio
Memories Look At Me by Tomas Tranströmer #shorts #poetryshorts
Tranströmer intervjuas och läser dikten Näktergalen

Quem Gosta

Seguidores