Tragédia da monja

Incendiou-se a virilha da monja
a santa monja piedosa e pura.
O hábito que usava ela despiu
e do que era sem saber saiu
imaculada, ainda que em fervura.

Então, correndo pela capela
barroca e bela,
a monja atônita esculpiu pavor
na face de todos os santos
que não sentiam sua dor.

Em seu transe transbordado
ganhou o espaço do paço.
Nem mesmo invocou a Virgem,
nem mesmo invocou Jesus.

No ardente e pânico terror
das brasas que jamais imaginara,
a monja foi correndo, quase alada,
tombar, sem lérias e sem leros,
nos braços do poeta que sonhara
o pecado de tê-la como amada.

Deslumbrado, o poeta deslumbrou
a monja com os ímpetos mais feros,
cobrindo-a de calafrios
nas aras do altar de Eros.

Apagou-se então o incêndio
num susto de duplo mistério:
santa e vate se perderam
num embate de virilhas
entre ardores e arrepios
no paço do monastério:
santa e vate se encontraram
na história de maravilhas
de um conto que me contaram.
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