Herberto Helder
Herberto Helder de Oliveira foi um poeta português, considerado por alguns o 'maior poeta português da segunda metade do século XX' e um dos mentores da Poesia Experimental Portuguesa.
1930-11-23 Funchal
2015-03-23 Cascais
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que poder de ensino o destas coisas quando
em idioma: um copo de água agreste plenamente na mesa,
só em linguagem o copo me inebria
— placa de gelo em que lóbulos
do cérebro? — e exalta-me a transparência, porque
fora, sob
administração
geral: ciência, literatura, economia, gramática,
nada, nenhum copo, nenhuma água na mesa,
me fazem sangrar aferida essencial, ou mover-me
às cegas e às avessas
até ao último reduto; só antes,
por trás, depois,
à frente, eu sinto que a membrana de vidro, reservando uma pouca
de água miraculadamente do caos
dos dicionários, me despedaça
como primeira palavra,
não apenas os dedos, mas dedos e memória, devotação de vida;
a lição do nome
que não tem Deus, e de que o nosso nome
diminuto se aproxima; basta aquela água delgada enquanto algures
ceifam na terra,
edificam; água colhida no verbo
copo ou em Deus advérbio
de modo,
e há um nó interno requeimado, um nó semântico, e um calafrio
trespassa a bic preta, e em nativo escrevo
a música de ouvido,
e o ar que está por cima enche
todo o caderno,
e equilibram-se
o copo sobre a toalha, transparência, plano de água,
e dedos e papel e script e trémula superfície da memória,
tudo passado a multíplice e ardente
em idioma: um copo de água agreste plenamente na mesa,
só em linguagem o copo me inebria
— placa de gelo em que lóbulos
do cérebro? — e exalta-me a transparência, porque
fora, sob
administração
geral: ciência, literatura, economia, gramática,
nada, nenhum copo, nenhuma água na mesa,
me fazem sangrar aferida essencial, ou mover-me
às cegas e às avessas
até ao último reduto; só antes,
por trás, depois,
à frente, eu sinto que a membrana de vidro, reservando uma pouca
de água miraculadamente do caos
dos dicionários, me despedaça
como primeira palavra,
não apenas os dedos, mas dedos e memória, devotação de vida;
a lição do nome
que não tem Deus, e de que o nosso nome
diminuto se aproxima; basta aquela água delgada enquanto algures
ceifam na terra,
edificam; água colhida no verbo
copo ou em Deus advérbio
de modo,
e há um nó interno requeimado, um nó semântico, e um calafrio
trespassa a bic preta, e em nativo escrevo
a música de ouvido,
e o ar que está por cima enche
todo o caderno,
e equilibram-se
o copo sobre a toalha, transparência, plano de água,
e dedos e papel e script e trémula superfície da memória,
tudo passado a multíplice e ardente
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