Lago Burnett

jornalista brasileiro

1929-08-14 São Luís
1995
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A Última Canção da Ilha

Trarei sempre verde
gaivotas e sal:
a lembrança não perde
a ilha inicial

Nem descuido as brisas
o mar de imundícies
(minhas pesquisas
bóiam às superfícies)

A obsessão do cerco
por ínvias águas
é o em que me perco
entre — agora — mágoas

Autêntico Atlântico
aleou-me todo
quanto de romântico
mergulhou-me em lodo

Oh! velas belas
ao ritmo transeunte
vosso, belas velas
que eu me unte

Trago-me à retina
de mastros e quilhas
cheia a sina
de todas as ilhas

Código pressago
de pássaro marítimo
na alma trago
canto e ritmo

Que é quanto me sobre
por ter-me feliz
ao sol que encobre
minha São Luís

Onde era só
com hábil engenho
quanto virou pó
tudo que não tenho

Idéias descalças
desfiando saias
longas como valsas
pelas praias

A primeira estância
ao céu abstrato
coisas como infância
ritmando com mato

Outros poucos casos
como águas insípidas
Nos olhos rasos
saudades liquidas

(Os Elementos do Mito / l953)

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