Minhalma

Minhalma gentil que se parte
Vai
Sai de mim
Eu ficarei a relembrar-te
A reclamar-te
A chorar-te
Na clara escuridão da funda noite

Minhalma fremosa
Minhalma doce
Minhalma cheia de tudo, vai
Mãe natureza chama de volta
O que lhe pertence
Solta-te de mim
Não me pertences

Cai na toda escuridão
Minha luz, minha lâmpada, meu céu
Minha vida que minha mãe me deu
Fica a esperar
Escondida
Em algum colo
Morfeu

Fica meu corpo aqui
Fica meu corpo sem minhalma
Fica meu corpo no breu
Sem meu espírito

Um e uma e outro eram em mim
A presença
De alguém ausente de mim

Fica meu corpo longe
Bem longe
Minha sina
Meu destino
Minha cruz
Fica meu corpo incendiado no barco
Crucifixo

Fica o que foi e tinha sido
Antes
Destes mares de nunca mais
Nunca dantes
Nunca durantes
Nestes, naqueles, noutros mares
De nunca jamais

Restam nestas águas
Destes mares
A fumaça
O fero fogo
A luz
Os fantasmas, os ângelos
Os arcângelos
Que fomos

Restam pelo céu
Per omnia saecula saeculorum
Fumaças tapando a bola
Mas o fogo e a luz ardendo aqui
Transformam
Esta nave
Num farol

Lúmina, luminosa, lumescente
Lúcida
Nossa nave ilumina os mares
É farol

A nossa luz é tanta
Ilumina tudo
É sol.

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