30-X-(Dos que vivem na sombra)

ontem suspeitei o cego em mim
andei errante por ruas e não encontrei luas
e me castiguei com medo de mim
ontem descobri o monstro hurrando em mim
quisera que meu corpo fosse vosso corpo
o sombrio vagalume por pousadas de mim.

ontem suspeitei o descoberto em mim
e pensei em andar pra sempre nutando
pra ver o rosto vasto que se esmaga em mim
vencido contrafeito morto
me agarrei ao quindavia de intato em mim
há muito eu constatei a insegurânsia em mim
o anjo rebelde que havia em mim
o estranho prisioneiro nas masmorras em mim
escrevi versos duros de dura ansiedade
mas não constatei verdade alguma
escrevi versos pálidos num suspiro
mas não encontrei nenhuma só lição
à tona tropeçando nos meus passos
penso que é angústia o sentimento vácuo
mas não sei ao certo se existe angústia.
quisera que meu bálsamo fosse o vosso beijo
tendes lábios enormes e eu não os vejo
mas no alto do rosto se incendeia
a mesma luz sombria que me guia.
as forças me forçam a fins que desconheço
mas suspeito que está no universo falido
ontem descobri o pouco que conheço
e me vi trancado pelo avesso
não sei se foi remorso o que passou por mim
ou foi vontade de fugir de mim.

ontem descobri o desespero em mim
verti meu sangue no vasto mundo
amorte doido feito busquei
rasguei papéis desfiz contratos
que com meu ego o tempo fez,
sonhei loucuras calei-me há tempo
meu sofrimento é tão imenso e tão presente
que nem notei
é lodo e mundo ida sem volta
amorte é sangue maldiçoado
corpo do livro pastirrasgado
amorte é medo nunca explicado
há sempre uma possibilidade de não me esconder,
e vocês sorririam se eu dissesse que a tristeza
é supérflua enquanto importa esta análise?
deixa nua a verdade do medo todos temos medo
talvez seja pela cereja que tenho no corpo
e ninguém a colheu.
nunca mais amorte amarei
nunca direi sim direi sempre talvez.

ontem suspeitei o inacabado em mim
orgasma prometida à minha estrela
à custa da revolta que houve sempre em mim
os conhecidos seres conformados como eu
inconformado que apesar da fraqueza
nunca olhei pro fim
às vezes penso que somos frutos das ondas dos instantes
que arrebatadas nos levam distante
mas é bastante pra da tal verdade ficar mais distante

ontem constatei o espectro em mim
com sua mão de fogo exorcizando a dor
mas sei e muito sei que não existem santos
apesar do ódio que sou eu amo tanto.
ontem cobri redescobri grotescos arabescos
ridículo estranho e iníquo eu era para mim.
há sempre uma possibilidade (mesmo que longínqua)
de esquecer a culpa e escapar de mim.

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