A Sombra da Mão

Ferro
fogo
nau
e firmamento...

mentes de enxofre
olhos de laser
anjos de aço circundam a órbita
pairam no ar
bailam no ar

o céu é cinza
os homens, loucos, caem vorazmente
decepcionados com a sua própria crença
desesperados
recorrem, quem sabe, a Shakespeare:

Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio,
do que pode sonhar a nossa vã filosofia.

É tarde.
A humanidade implode graças a sua duvidosa crença
o último grito
(último lamento)
não chega a transcender à sua debilitada existência
não vai além dos seus rudimentares tímpanos
jamais chegará
ao aguçado ouvido do universo.

É tarde.
Muito tarde.

Coisa nenhuma subsiste,
bem dizia Lucrécio,
mas tudo flui.

Uma gota de orvalho
cai cristalina e lentamente
no eterno e abissal azul

a terra move-se

séculos recomeçam...

anjos de aço,
pairam no ar,
bailam no ar...

quousque tanden?
Quousque tanden?

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