Moniz Bandeira

Salvador
2017-11-10 Heidelberg
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Canto do Outubro

Que ficou de teu mundo?
Onde aqueles que te ajudaram a construí-lo?
Os muros tragaram balas e palavras
e a erva cresceu sobre os lábios dos mortos
que a noite ocultou.

Sempre noite, sempre inverno,
flocos de neve caindo
na memória dos que marcaram
as estradas do tempo.

Os mortos.
Sangue, pólvora, cinza, pedra,
e um século preso nos seus dentes.

Vê a alvorada,
a alvorada que vem,
que ainda vem,
que surgirá de lágrimas e de sonhos,
quando nos campos,
verdes campos,
hoje cobertos de neve,
as sementes brotarem e as árvores florescerem.

quando todas as vozes,
rasgando túmulos e quebrando espelhos,
vibrarem nos subterrâneos do mundo.

Vê quantos homens
caminham pela madrugada.
Eles esperam por ti.
Esperam que os relógios sangrem
à dor das horas.

Que os rios contidos
desemboquem pela boca dos mortos
despertados ao canto das aves
e dos clarins de fogo da alvorada.

E o sol,
O sol que tu levaste nas mãos,
será de todos.

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