O Mercador

Deus, como se fosse o artífice meticuloso
e um mercador de pedras preciosas,
bordou o Universo num tapete
enrolou-o
e saiu com ele pelas ruas de Nova York.
Tinha muitas estrelas para vender.
Cada uma delas valia milhões.
Mas como o Universo não é composto só de estrelas
mas de cometas, anéis e arco-íris
(para não falar nos meteoros, etc.)
Deus também bordou a sua sombra, como se fosse um halo de
luz,
em volta do Universo.
Em Nova York, Washington e Maryland
Deus carregou o tapete sobre os ombros
e anunciou-o levando uma lua cheia na cabeça
e um relâmpago tão enredado quanto uma serpente nos
braços;
mas ninguém quis comprar.
Nem mesmo os árabes, donos de camelos
petróleo
e oásis no deserto;
nem os turistas,
cada um mais atarefado do que o outro,
que todos os dias desembarcam em Miami.
Estavam todos muito preocupados
com a cotação da bolsa em Wall Street
e com o dsempenho de alguns pilotos na Fórmula 1.
O Universo, para eles,
não era precioso:
— nem o Universo
nem os astros;
por isso Deus sentou-se numa grande nuvem,
quando se sentiu cansado;
abriu o tapete e pensou:
"— A Lua", disse ele olhando para a Lua,
"não vale um dólar;
o Sol, que eu pensava valer alguma coisa,
não vale nada (nem um raio de atenção)
e os anéis de Saturno que, para mim,
eram incalculáveis nem mesmo suscitaram
atenção".
Deus ficou tão ofendido
quando percebeu isso que, no lugar de desenrolar
e guardar o Universo a seus pés,
enrolou e guardou a sua sombra.

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